sexta-feira, setembro 28, 2007

A queda

Eu escrevi, certa vez, que andar de ônibus em Salvador é um resgate cármico. É claro que exagerei um pouco. Às vezes me divirto muito com as figuras que aparecem no coletivo, e outras vezes também distraio os passageiros. Como no dia em que despenquei dos meus saltos altos do último degrau do ônibus, e cai em frente a uma parada cheia de gente.
Por sorte botei as mãos na frente, não bati a cabeça (já pensaram? Tudo ia virar desculpa: ah, foi porque ela caiu e bateu com a cabeça...), arranhei as mãos, os joelhos e 'dei um jeito' no tornozelo- agora me ocorreu: por que se diz dei um jeito no tornozelo? jeito de quê?
Bom, resolvi bancar a despojada, levantei com o que sobrou da minha dignidade (a maior parte ficou no chão) sob o olhar de algumas pessoas espantadíssimas, como se fosse um fato muito raro alguém despencar de um transporte coletivo.
O tornozelo doía e pensei em ir a uma clínica ali perto. Fui andando, mas no caminho desisti. Já que dava prá andar, melhor ir trabalhar. Se o tornozelo inchasse eu procuraria um ortopedista.
Cheguei na redação mancando, pálida, e com uma cara de coitada que não costumo ter. Logo, me perguntaram por que eu estava mancando (o pessoal da redação é muito curioso).

Eu expliquei: cai dos degraus do ônibus e levantei a barra da calça até o joelho para mostrá-lo ferido.
Oh, como foi? Perguntaram mais uma vez...
Expliquei: eu ia descendo do ônibus, quando vi um casal parado no ponto, e meus olhos foram desviados para o brinco que a menina usava, vermelho e muito original...
"Que brinco bonitinho", pensei antes de cair de cara no chão. E aqui estou eu, sangrando, arranhada e humilhada.
O quê???? disse uma colega virginiana. “Eu já estava ficando solidária com você. Mas não estou mais. Você caiu por motivo fútil’”.
Todos pareceram concordar, e eu botei minha viola no saco e desci para o Serviço Médico, para limpar os arranhões. E como não se pode desfazer o que já foi feito, resolvi descer em outra parada por algum tempo...

quinta-feira, setembro 13, 2007

Ando preguiçosa, inquieta e lenta.
Não quero ler, nem assistir TV.
Será que a esta altura,
ainda tenho
o direito de
não saber o que quero?