sábado, dezembro 23, 2006

A Missa do Galo

O Natal me lembra a Missa do Galo e uma das maiores decepções da minha infância.
Por muito tempo desejei poder ir à missa, que naquela época era sempre à meia-noite.
Minha mãe vinha de uma família batista e seu avô, meu bisavô, foi um dos primeiros, se não o primeiro, pastor batista brasileiro.
Mas, a Igreja Católica sempre exerceu um fascínio sobre mim com seus altares maravilhosos, anjos, e santos dramáticos em rituais de êxtase e sangue.
Eu devia ter entre seis e sete anos quando esse dia chegou. Eu iria à missa com minha avó paterna e madrinha, uma católica praticante. Lembro da ansiedade que senti, e o esforço que fiz para me manter acordada. Minhas tias se preparavam animadas e eu olhava encantada para o véu de renda que elas levavam na cabeça.
A missa transcorreu normalmente, com cânticos, incensos, e palavras em latim.
Quando acabou, virei para minha avó e perguntei me sentindo lesada: “ e o galo? cadê o galo”? “porque ele não veio?”
Na minha imaginação, o galo seria a parte especial da celebração, e deveria permanecer em cima do altar enquanto o padre celebrasse a missa.
Minha avó explicou que a missa do galo se chamava assim porque era realizada nas primeiras horas da madrugada. Fiquei terrivelmente desiludida.
Mais tarde me disseram que Papai Noel não existia. Como não? Eu tinha rezado pedindo a ele uma correntinha de ouro e recebi uma exatamente igual a que eu queria.
E não havia contado meu pedido pra ninguém...
Papai Noel existia sim. E até hoje , quando chega o Natal, eu sempre penso que ele está por aí para realizar todos os nossos sonhos e desejos..
E quem sabe esteja mesmo.
Que todos nós possamos ter nossos anseios realizados.
E que Papai Noel traga paz, prosperidade e harmonia para o mundo inteiro.
Chega de guerra e de pobreza. Luxo para todos.
Feliz Natal e um ótimo 2007 para todo o planeta.
E para nós especialmente.


quarta-feira, dezembro 13, 2006

Para alguém de quem gosto muito

Não se pode , nem se deve, viver a vida dos outros. A nossa própria vida pode ser a melhor possível. Nosso tempo é só nosso, não está conectado à vida ou à história de mais ninguém.É preciso escrever nossa história sem antecipações, sem pular degraus. Só assim se chega completo onde se tem que chegar.

terça-feira, dezembro 12, 2006

"Sei que sou sólido e são,
para mim num permanente fluir
convergem os objetos do universo;
todos estão escritos para mim
e eu tenho de saber
o que significa
o que está escrito".

Walt Whitman

segunda-feira, dezembro 04, 2006

Léozinho






Léo teve alta ontem, após mais duas semanas no hospital.
Há dois anos, descobriu-se que ele tinha leucemia e foi iniciada uma luta para a recuperação da sua saúde e para encontrar uma medula compatível com a dele.
Um menino forte, determinado e corajoso. Durante o período em que passou, entrando e saindo no Hospital São Rafael, onde realizava o seu tratamento comandado pela eficiente equipe do doutor Fernando Araújo, Léo não reclamou das quatro cirurgias que teve que fazer para tirar e colocar cateteres (será assim que se escreve?), não reclamou das centenas de agulhadas que tomou, da quimioterapia, dos antibióticos, nem das dores que sentia. Aceitava tudo com estoicismo e acompanhava o seu tratamento cuidadosamente a ponto de ligar para a enfermaria para saber quando as plaquetas que teria que receber iriam chegar, lembrar os horários dos remédios que teria que tomar, e coisas assim.
Só reclamou dos dias que passou na UTI e, às vezes, da comida.
Fora isso, estava tudo dentro do que estava disposto a suportar. Ficou amigo dos médicos, das enfermeiras, das auxiliares, e do pessoal da copa para onde ligava de vez em quando para pedir um sorvete, um cafezinho, um Nescau. Enfim algo que estivesse com vontade de comer. Comia muito para fortalecer seu sistema imunológico e entre seus passatempos preferidos estava o sjogos no lap top, o desenho de Bob Esponja na TV e os passeios de madrugada pelos corredores do hospital puxando consigo toda a parafernália de rodinhas com o soro de onde saía o remédio que ia para o seu organismo. No ano que vem, iria cursar a faculdade de engenharia elétrica no Cefet.
Seus últimos exames mostravam uma medula limpa e os médicos estavam confiantes.
Mas seu ciclo já estava encerrado. Léo partiu na madrugada de domingo levado por uma parada respiratória. Uma partida sentida por todos seus amigos e familiares. E claro, por mim, sua tia.
Um menino de 21 anos com uma inteligência brilhante e um coração de... menino.
Estamos todos tristes e muito orgulhosos de sua capacidade de combate, de seu bom humor, e de sua confiança no futuro. Estamos gratos por tê-lo conhecido e de que ele tenha feito (e fará sempre) parte de nossa família.
Gostaria de poder dizer a ele obrigado Léo, por tudo que nos deu, pelo seu sorriso, pelo seu carinho, e até pela sua teimosia.
Você cumpriu seu ciclo da melhor maneira possível. Tenho certeza que foi aprovado com louvor. E tenho certeza também que estará bem onde estiver.Teremos saudades e o consolo de saber está em paz. Como seu pai escreveu num cartão de dedicatória junto às flores : Fique em paz querido. Não se preocupe conosco.Teremos saudades.

terça-feira, novembro 28, 2006

Rio Vermelho



Êta Rio Vermelho para ter maluco, mendigo, bêbado, menino de rua, cachorro perdido e ladrão.
Bairro boêmio e histórico de Salvador, foi no Rio Vermelho que Jorge Amado viveu grande parte da sua vida até morrer em 2001, e é onde moram ainda hoje celebridades como Gal Costa, Carlinhos Brown e outros artistas de diversas matizes menos conhecidos e alguns até obscuros.
Lugar bom de se viver, fora o confronto cotidiano com a realidade dura da pobreza e da miséria que quebram a aura de poesia e de magia(rima sem intencionalidade) que envolvem o bairro.
Hoje eu vi Lucas, como diz que se chama um menino de rua que perambulava pelo bairro, dormindo a sono solto na calçada de uma casa, tranqüilo como se estivesse na segurança de um lar. Fazia meses que eu não o via, tinha sumido, e cheguei a pensar que tivesse voltado para Sergipe de onde disse ter vindo para trabalhar e ajudar a mãe. Não sei se é verdade. Quando o conheci, ele estava dormindo na frente do meu prédio tendo uma caixa de engraxate como travesseiro. Dei comida, uma camiseta e uma sandália. Ele se ofereceu para engraxar meus sapatos quando eu quisesse. De graça. Eu disse que faria isso quando precisasse.
Cheguei a procurar um órgão da prefeitura para que o encaminhasse de volta para a sua terra. Não deu certo. Era mais uma dessas instituições sem estrutura que existem para dar emprego a pessoas que, na maioria das vezes, não estão a fim de trabalhar.
Notei que ele tinha crescido, o cabelo estava mais curto, mas continuava sujo como sempre e com a impressionante capacidade de dormir em qualquer lugar: no chão quente, debaixo do sol.
Meu Deus, vou ter que ficar vendo Lucas de novo, com fome, sujo, dormindo nas calçadas. Que praga.
Como se não bastasse, tem também um cachorrinho preto, poodle, que fugiu de casa, ou foi abandonado, e anda prá cima e prá baixo na rua Alagoinhas. Não quero nem olhar. Tenho medo de acabar recolhendo-o e levando-o para casa, como duas das minhas irmãs que recolhem cachorros e gatos abandonados pelas ruas. Acho isso uma maluquice, e tenho medo que seja genético. Tenho mais medo ainda de recolher gente. Se por acaso eu quiser fazer isso, pelo amor de Deus me internem.
Tem o velho uruguaio, que se diz um ex-tupamaro, e vive pedindo dinheiro nas sinaleiras. Esse também dorme nas calçadas duras, sem nem uma folha de jornal embaixo. Outro dia, pivetes o apedrejaram e ele foi levado de táxi para o pronto socorro por uma vizinha minha de bom coração. Ela até arrecadou dinheiro para que ele pudesse alugar um barraco. Não adiantou. Os vagabundos da área o expulsaram e ele logo estava de novo nas ruas.
O menino, o uruguaio , e o cão, são alguns dos inúmeros personagens desprotegidos que vivem pelo bairro. Bairro que também abriga alguns dos melhores e mais caros hotéis da cidade, bares da moda, lojas, restaurantes e antiquários. Rio Vermelho onde Caramuru veio parar após naufrágio de um barco português. Rio Vermelho da festa de Iemanjá no dia dois de fevereiro. Rio Vermelho de calçadas quebradas, bocas de lobo entupidas e poças de água suja...
É muito estresse!

quarta-feira, novembro 22, 2006

O placebo

Não me considero uma pessoa sugestionável e costumo ler com um certo desinteresse e descrença, revistas com matérias que falam sobre o poder da mente sobre o corpo. É um dos meus paradoxos.
Esta semana passei por uma pequena surpresa que me levou a refletir sobre a reali-dade dessa teoria. Estava procurando um livro na minha estante, quando caiu um frasco do remédio que uso para a sinusite diagnosticada pelo otorrino; diagnóstico que me deixou com dúvidas. Acho que tenho apenas rinite.
Em todo caso, costumo aplicar as duas gotas nas narinas sempre que estou um pouco entupida, com dor de cabeça ou de ouvido.
Ao pegar o frasco que caiu, ele me pareceu cheio. Estranhei, pois tinha passado a semana anterior fazendo a tal aplicação até me sentir curada. Retirei a tampa e, per-plexa, constatei que o frasco não tinha furo. Então, o que aplicava eu nas narinas quando apertava o frasco? Nada. Nem ar.
“Quer dizer então que apliquei gotas de nada no nariz, e fiquei boa somente por achar que estava me medicando”?
A vida é realmente uma surpresa..........

terça-feira, novembro 14, 2006

Odores


Ando sem poesia.
O cotidiano me toma todo
o tempo
como um quebra-cabeças
que nunca
acabo de montar.
Meus sentidos ficam alertas
à noite
quando passo em minha rua
e sinto cheiro de plantas que
não sei o nome,
de rosas e de jasmins...

segunda-feira, novembro 06, 2006

Melhor idade para quê?

Não existe nada mais ridículo do que tachar de "Melhor Idade" o período de vida das pessoas que começa a partir dos 60 anos(ou será 65?).
Concordo com uma atriz, se não me engano a Tônia Carrero, que disse que MELHOR IDADE só se for para morrer.
Ora, vamos respeitar a inteligência das pessoas. Não que os 60, como 70, ou 80 sejam idades que não devam ser valorizadas.É verdade que não é agradável ver o corpo ir se transmutando, a pele ficando mais seca, o peito se dobrando à lei da gravidade, os cabelos ficando brancos....
Mas, isso faz parte da vida.
Quando éramos crianças sonhávamos em crescer logo, nos tornar adultos, ter mais autonomia e liberdade. Depois, a gente descobre que ser criança era bom; que ser adolescente também -apesar das crises existenciais, da sensação de inadequação, e de injustiça do mundo em relação a nós; a idade adulta traz problemas, mas também traz soluções. E tudo- a não ser subir escadas correndo, perder noite em bares ,ou discotecas- parece mais fácil.
Estou escrevendo sobre isso porque, embora não esteja fascinada pela passagem do tempo, também não estou com medo dele (é claro que se pudesse me conservar em formol, eu o faria; mas não posso). Que venha o tempo com todas as suas perdas e os seus acréscimos.
Essa reflexão superficial me surgiu, lembrando de um caso contado por minha tia Beré, que tem uns 60 e alguns anos de idade, e aparenta uns 10 a menos. Ela estava na fila de idosos em um banco, quando um rapaz se sentiu incomodado e bateu no seu ombro avisando :"Minha senhora, esta fila é para idosos; ela cordialmente mostrou para ele a identidade que lhe dava o direito de estar naquela fila.
E ele, sem graça: "Desculpe senhora; eu só a tinha visto de costas".
Minha tia caiu na risada (as mulheres de minha família- com exceção de mim de vez em quando- têm bom humor) , e respondeu para desconforto do rapaz e deleite do público: "É bom saber meu filho. Eu agora só vou andar de costas"....

xxxxxxxxxxxx
Obs. Na verdade estou chateada. A melhor amiga da minha mãe, que conheço desde menina, morreu ontem. Na rua, um homem me chamou de “Coroa metida”. CORÔAAA????? EU?

quinta-feira, outubro 26, 2006

Tinha um trio elétrico no meio do caminho

Domingo cinzento e chuvoso, me dirijo ao jornal para cumprir minhas obrigações dominicais, quando me deparo com um engarrafamento 'monstro' na Cardeal da Silva, uma avenida estreita de mão dupla, onde mal dá para passar um carro de cada lado, com o agravante de que lá funcionam duas faculdades. É claro que a palavra engarrafamento na Bahia tem um significado diferente do de São Paulo, onde a palavra em si significa um nível se sacrifício e estresse intolerável. Mas aqui ninguém tem saco para passar mais de meia hora preso no trânsito. Normalmente, no horários de rush a Cardeal da Silva é um inferno, com os estudantes chegando e saindo para as aulas. O inusitado é que aos domingos, dia de folga, a avenida fica livre e o fluxo de veículos transcorre como num “céu de brigadeiro”.
Eu estava em um ônibus quase vazio, com um motorista tirado a engraçado que fazia observações gaiatas a todo momento.De repente, ele diz: “olha é um trio elétrico”...
Ninguém leva a sério; ele faz uma manobra e coloca o ônibus numa posição em que todos podem ver o veículo na frente. De fato, é um trio elétrico. Tocando, e com umas 50 pessoas agasalhadas pulando atrás, com sobrinhas e guarda-chuvas nas mãos...
Não dá para acreditar, penso perplexa. É por isso que às vezes me irrita morar em Salvador. É muita animação por tudo e o tempo todo.
E eu neste resgate cármico que parece interminável ( é, às vezes, eu reclamo de ter que andar de ônibus em Salvador).
E o trio vai rodando em ritmo lento, sob a chuva, enquanto carros e ônibus seguem pacientemente atrás. “Acho que é coisa dos evangélicos”, diz uma senhora. Uma outra retruca: “Não. Acho que é uma festa dos católicos que estava marcada para hoje”.
Não se faz mais religiosos como antigamente, penso intrigada com a força da massa.
Tento sugerir ao condutor que dispare a buzina do ônibus, com a esperança de que os outros motoristas chateados promovam um buzinaço.

Mas que nada. Ele está super zen. Conversa com o cobrador e com os passageiros e torce para que o trio desça para a Vasco da Gama, o que depois de 40m de chateação, acaba acontecendo, para alívio de todos.
Depois que saí do sufoco e minha raiva passou achei engraçado. Só faltou padre Marcelo, ou o 'bispo' Edir Macedo, com os braços para cima de um lado para o outro em cima do trio.
Debaixo de um toldo, é claro. Afinal, chovia.
Na verdade, admito: foi hilário...

quinta-feira, outubro 12, 2006

Muito barulho por muito pouco...

Li hoje na Internet que Jackson Inácio da Silva, um dos 15 irmãos vivos de Lula, anunciou que vai votar am Alckmin no segundo turno. Pensei: coisa de irmãos, ciúmes...
Mas, não. Jackson que é operário e se diz militante do PT explicou que é contra a reeleição e se disse envergonhado pelos escândalos do partido. Disse também achar o Bolsa-Família uma ver-gonha para qualquer governo: “O povo não quer esmolas, quer trabalho, casa para viver, escova de dentes. Não apenas arroz e feijão”.
Lúcido. Honesto. Desapaixonado, não sei. Afinal, política é paixão. Até eu, que nunca fui ligada a partidos ou fiz política partidária, e sempre me senti livre, como me sinto, para pensar o que eu quiser e votar em que tiver vontade, me sinto envolvida pelo clima. E sei que não vale a pena. Desapaixonadamente falando, o mais provável é que todos nós nos decepcionemos. Pelo menos aqueles que ainda são capazes de ser leais a si mesmos e às suas convicções. Em uma coisa ou outra.
Não vou mais falar em política neste blog. Não tenho a pretensão de fazer a cabeça de ninguém, nem de ser dona da verdade. Sou dona da minha verdade, que hoje é esta: acho Alckmin mais preparado. E melhor: não é do PT, esse partido que brincou e menosprezou com o seu discurso de honestidade e de ética a inteligência e a esperança dos brasileiros.
De qualquer forma, vença quem vencer, sairemos ganhando porque podemos escolher, podemos decidir, podemos acertar ou errar. E que continue assim.
Acho que sairemos ganhandoporque sou também otimista. Acho que a gente sempre está apren-dendo com os erros e os acertos, com as coisas boas e as coisas ruins. É só tentar enxergar. E como diz Salomão “há um tempo certo para tudo”.
Então, seja qual for o resultado estaremos bem.

quinta-feira, outubro 05, 2006

Não é que eu não tenha dúvidas.
Eu as tenho.
Sem endeusar ou demonificar ninguém, sem mitos , nem mentiras,
eu gostaria de poder pensar desapaixonadamente e
concluir sobre o que será melhor para o Brasil no momento:
O que será?
A demagogia, os sofismas, e o fanatismo
me enchem o saco.

quarta-feira, outubro 04, 2006

O PT venceu na
Bahia e eu cheguei
à sábia conclusão
de que para alguns,
a opção por Lula,
virou uma espécie
de religião.
Questão de fé.
E credo,
não se discute.
Credo.
Eu botaria minhas
barbas de molho,
se as tivesse.
Sinto cheiro da
Santa Inquisição....

terça-feira, setembro 26, 2006

Por que enganar a nós mesmos?
O santo tem pés de barro,
está claro,
e é bom que quebre.
Para que acreditar em mentiras?
Só para acreditar?
Acreditar para acreditar?
Acreditar por acreditar?
Que sentido faz?
A fé cega é,
como diria Milton,
faca amolada.

sábado, setembro 23, 2006



"Siga o conselho do seu próprio coração,
porque mais do que este
ninguém será fiel a você.
A alma do Homem

freqüentemente o avisa
melhor do que sete sentinelas
colocadas em lugar alto".
Eclesiástico, 37.13

quinta-feira, setembro 14, 2006

Frederico

Se eu disser que Nietzsche me enriquece, os que o conhecem vão achar normal; se eu disser que ele também me diverte podem não achar tão normal assim. ..
Enfim, ele me diverte: talvez pela objetividade com que escreve seus aforismos e pela ausência de falsa piedade para com o ser humano.
Às vêzes me pego rindo lendo alguma coisa dele, ou sobre ele.
Que homem encantador ! Que homem insuportável!
Os gênios podem ser o que bem entenderem....
E ele era gênio, embora me constranja que tivesse as mulheres em tão baixa conta.
Talvez tivesse medo de nós. Talvez tivesse razão.
O medo explica um monte de fantasmas.
Esse preâmbulo todo foi apenas para citar uma sentença dele que eu adoro, como adoro sorvete com calda de caramelo :
"O que não me mata me fortalece".
Bárbaro, não ?

sexta-feira, setembro 01, 2006

Lembranças de sóis

fotos : Stela Alves

Andar na praia
numa manhã de sol
me dá a certeza:
é um privilégio
estar aqui
agora.
Não estou de férias,
não estou doente,
não me aposentei.
Trabalho à noite

e tenho o dia livre.
Posso usá-lo

como quiser.
O dinheiro é curto,
mas o malabarismo
também
tem a sua graça...
Minha pele está
manchada pelo
excesso do sol
no tempo em
que filtro solar
era coisa
de gringos.
Preferia não
tê-las
(as manchas),
mas pagaria o
preço mil vezes
para ter todo
o sol que tive.

quarta-feira, agosto 30, 2006

O que estou fazendo se não gosto que seja assim?

Salvador seria uma cidade muito chata se os negros não tivessem vindo.
Eles trouxeram para nós a força espiritual, a alegria, o encanto com a vida.
Vieram para transformar e transformarem–se nessa simbiose étnica, cultural
e religiosa que é o povo da Bahia.
Penso nisso enquanto caminho na praia e vejo dois homens jovens, negros,
bonitos, treinando capoeira. Flexíveis, ágeis, gatos.
Não estou justificando a escravidão, embora, todos saibamos que era
um costume africano, e de outros povos mais antigos, vender inimigos
e os derrotados numa guerra. E escravizá-los.
O pior obstáculo para os negros ainda hoje, na minha opinião, e posso estar enganada,
ou não estar, é a aceitação da vitimização. A vítima aceita que foi vítima e não consegue deixar de sê-lo.
Se sente inferiorizada ao aceitar que é vítima e ao não assumir a responsabilidade que lhe
cabe por ser ou estar em determinada situação. Penso que a luta contra os algozes
não comporta o ódio. O ódio limita a visão. Minimiza o espírito. Aprisiona o intelecto.
Penso que devemos ter apenas o desprezo por pessoas que continuam pequenas apesar do tempo, da evolução científica, cultural, do acesso à Educação.
Mas não deixemos que o que pensam, dizem, ou fazem decidam pelo que somos e pelo que podemos ser.
Acho que ficar apenas, eu estou dizendo apenas, apenas, reclamando e ressaltando a dor do preconceito e da discriminação não conscientiza. Recondiciona.
Torna as pessoas mais sensíveis e inteligentes pressurosas em serem politicamente corretas. Afinal, o preconceito é burro e é medroso. As pessoas instruídas sabem disso.
Para mim, o politicamente correto é a mudança. Mudança porque tem que se mudar.
Mudar porque é preciso mudar o que é injusto, o que não está certo.
Mudar porque é um direito. E o direito deve ser usado se pisando, e rindo, em quem nos atrapalha o caminho.
Para poder se afirmar é preciso a não negação. O que é, é.
Sim, também tenho meus preconceitos. Ou conceitos.
Vou mudar o que não gosto. Dentro do que me fôr possível. Agora. Mais tarde verei o que pode e precisa ser feito...

segunda-feira, agosto 28, 2006

Em defesa do açúcar

A capa da revista Veja desta semana é um libelo contra o açúcar.
Fico indignada com os ataques a esse condimento que dá gosto a vida.
Viva os olhos de sogra, brigadeiro, pundins, pavês, sorvetes, os trans etc, etc, etc
Graças a eles aguentei estóicamente a obrigação de frequentar aniversários de crianças, quando meu filho era pequeno.
Ter que aguentar aniversário de crianças - cujas mães, pais, e os outros convidados você não conhece- para levar o filho que é o convidado, é uma das maiores provas de amor que existe.
E os filhos não reconhecem este sacrifício.
Às vezes fico pensando que só os doces podem salvar o planeta....
E nos livrar do tédio.

sexta-feira, agosto 25, 2006

Resenha do general

Está saindo em Cuba um livro que reúne os discursos de Fidel Castro, entre 1959 e 2005, sobre a mulher e o processo revolucionário.
Considerando-se que cada discurso de Fidel leva uma média de 5h, quem será que se dispõe a ler um livro desses?
Não creio que exista uma mulher em juízo perfeito que se arvore a um empreendimento desse tipo. A não ser que goste de se auto-flagelar....
O que será que o general tem a dizer sobre a libertação da mulher num lugar onde a liberdade começa e termina onde ele determina?
Eu vou ficar sem saber.
Graças a Deus.

sexta-feira, agosto 18, 2006

O foguetório...

Vivendo em Salvador a gente se acostuma com todo tipo de barulho.
Afinal, o povo adora festejar. Festeja-se tudo. Até a derrota..
Quando o Brasil perdeu da França, na Copa, foi um tal de foguetório que um amigo comentou: “Nunca pensei que tivesse tanto francês na Bahia”. Não tem.
Na minha opinião, o povo detesta desperdiçar dinheiro. E como provavelmente comprou muitos fogos confiante na vitória do Brasil, o foguetório serviu, ao menos, para extravasar a decepção e a raiva. E para não ficar com sensação de prejuízo.
Festejar a vitória da França foi uma espécie de vaia para nossa seleção.
Pois é. Nas festas sacras tem foguetório. Nas pagãs também.
Numa segunda-feira à noite peguei um ônibus com o trajeto errado. Percebi que estava errado quando notei que ele estava fazendo muitas voltas. Não fiquei estressada porque, embora fosse demorar mais, no final ele ia acabar passando perto de onde eu teria que ficar.
Ruas estreitas, casas pobres, reconheci o lugar: Vale das Muriçocas... .
Passava o tempo lendo uma revista, quando ouvi um foguetório, e os gritos de uma mulher na rua me chamaram a atenção. Não me espantei. A surpresa veio quando meu olhar se voltou para dentro do ônibus: estava todo mundo deitado no chão. Não era foguetório, era tiroteio.
Me abaixei também, enquanto os passageiros gritavam para o motorista que parou o veículo: “Se adianta cara, sai daqui; parou por que”?
O motorista obedeceu e colocou o ônibus em funcionamento saindo da área de tiro. Poucos metros adiante as pessoas andavam e conversavam naturalmente, como se nada houvesse acontecido. Quem ouviu o barulho também deve ter pensado que eram foguetes.
“Como é fácil morrer”, comentou um amigo a quem narrei a história. “Você podia ter levado um tiro e morrido sem nem perceber”.
“É mesmo”, concordei assustada... Alguém vai passando leva uma bala, acorda em outro lugar e não sabe o que aconteceu: “Onde estou, que lugar é esse, que estou fazendo aqui ?”
Não gostei nem de pensar. Sei que é ser muito conservadora, mas torço para morrer numa situação de normalidade: velha e na cama de um hospital, com tudo arrumado, contas pagas, inclusive o enterro.
Será que estou sendo mórbida? Por que as pessoas não gostam de falar sobre uma coisa que vai acontecer fatalmente um dia???
O que me incomoda é a possibilidade da surpresa!

sexta-feira, agosto 11, 2006

A fé de
quem acredita
é igual a de
quem
não crê.

O crente e o ateu
defendem a sua
crença,
ou não crença,
com o mesmo ardor.

domingo, agosto 06, 2006

Amigas devem ser para sempre....

Essa tal virose que pegou muita gente em Salvador me pegou também. Com o nariz entupido e uma tosse seca irritante lá vou eu a um pneumologista para descobrir que ele me receitaria os mesmos medicamentos que eu já estava tomando por conta própria.
O médico me pediu, não sei porquê, um Raio X da face e dos pulmões. Passei numa clínica com disposição zero para esperar: se tivesse pouca gente eu faria os exames, senão iria embora. Tinha quatro pessoas na minha frente e é claro não esperei. Já fiz o meu diagnóstico: sinusite; a maldita sinusite.
Ao sair reparei numa mulher, encostada num carro, aspirando um cigarro com evidente prazer. “ Ótimo lugar para fumar. Bem em frente a uma clínica de pneumologia”, pensei com o rancor exacerbado dos ex-fumantes.
Ao prestar atenção na mulher, concluí que o fato não era tão inusitado assim. Afinal, a pessoa em questão era uma amiga com um talento notório para o inconvencional: Dóris, que a tempos eu não via. Ela foi à clínica para fazer um check-up. Quanto ao cigarro, qual o problema? Nenhum mesmo.
O papo esticou, filhos, amigos, trabalho e ela , como sempre que nos encontramos, lembrou de uma amiga comum que morreu de câncer há dois anos. E começamos a falar sobre Lúcia, criatura viva e inteligente que ignorou conscientemente um caroço que crescia em seu seio. Dóris guarda alguns dos melhores momentos compartilhados com Lúcia, que adora lembrar, e que chama de pérolas.
Uma das preferidas se passou num dias das mães da década passada, quando tínhamos como rotina nos encontrar nos fins de semana, ir à praia, e acabar comendo em algum barzinho perto do mar.
Antes de sair, Lúcia resolveu ir a uma floricultura diante de casa, no bairro da Graça, se desincumbir de uma obrigação: comprar flores para que o casal de filhos levassem para a avó, mãe do ex-marido.
Separou duas dúzias de rosas e mandou a moça fazer dois bouquets (ainda se usa essa palavra?) . Depois, perguntou o preço. A garota respondeu e ela pensativa .”Acho que é melhor fazer só meio bouquet prá cada um. E depois do novo pedido, novamente mudou de idéia.”Moça faça dois cartuchos com um arranjozinho . É suficiente”.
E voltando-se para Dóris, falou categoricamente: “Ex-sogra é investimento perdido” .
Rimos com a lembrança. Costumamos gargalhar quando lembramos dela nos jogos de buraco, que ainda fazemos de vez em quando. Seus palavrões, seu falso mau humor, sua irreverência. Ela está presente toda vez em que nos encontramos . Acredito, sinceramente, que ela deve estar bem onde estiver. E que também se lembra de nós.

domingo, julho 30, 2006

Resgate Cármico II



No processo de resgate cármico no qual me encontro, que é o de depender do sistema de transporte coletivo de Salvador, acontecem umas coisas que posso dizer, com um misto de vergonha e espanto, me encantam e me divertem. Estas coisas, obviamente, tem a ver com o povo baiano. Eu admiro esse povo pelo seu desprendimento, capacidade de adaptação, coragem, otimismo, bom humor, e uma certa cara de pau. Gosto e muito de fazer parte dele (exceto pela mania que algumas pessoas têm de colocar som alto e obrigar a vizinhança a compartilhar o mau gosto com eles . Sim, porque só bota som alto quem tem mau-gosto).
Hoje, tive que tomar dois ônibus para fazer um trajeto que faria normalmente em 20 minutos se estivesse de carro. Mas carma é carma e não tinha uma linha de busu, como são chamados pelos estudantes, que me levasse direto para o meu destino.
Isso tudo é só para contar que durante a viagementraram cinco ambulantes: três baleiros, uma vendedora de sachê, e um vendedor de canetas. Discursos na ponta da língua, clareza e objetividade, eles foram ótimos. Apesar dos meus triglicérides altos comprei umas balas bem doces, porque de amargo bastam os problemas da vida, e também para dar uma força ao vendedor que entrou bem arrumado, de calça e camisa social, sapatos e meias, com três sacos de balas nas mãos. Achei que ele era muito caprichoso e mereceia estar empregado numa loja legal.
Depois dele, entraram outros dois vendendo a mesma marca de bala, com mais variedade, porém menos estilo.
A moça do sachê, cabelos presos com presilhas, vestida com simplicidade, mas decentemente, fez um discurso simpático e no final, agradecendo com um sorriso, desejou a todos uma boa viagem. "Daria uma excelente aeromoça", pensei com meus botõezinhos de madrepérola.
Quase o ônibus inteiro comprou o sachê que ela oferecia a R$0,30.
Pensei em como o baiano gosta de cheirar bem. Deve ser herança dos nossos antepassados indígenas e africanos. Os índios não podiam ver água, e os africanos adoravam cheirar bem, tanto que trouxeram para nós os banhos de cheiro, feitos com plantas aromáticas.
Por último entrou o vendedor de caneta, com um olho vazado e riso gaiato. Anunciou suas canetas do Canadá, de três cores, prometeu dois meses de garantia, a quem o achasse se a caneta falhasse, e contou o caso de uma vizinha que comprou por R$1 uma caneta diferente da sua. “Ela colocou a caneta na bolsa, a caneta explodiu, acabou com os documentos, carteira de identidade, e com o celular. Era uma caneta do Iraque e ela não sabia”, informou.
Não segurei o riso, e ele me olhou agradecido já que ninguém parecia ter entendido a piada.
Bom, essa entrada de ambulantes em ônibus é normal. A depender do trajeto entram até uns 10. Haja resgate cármico nesse trabalho de resultado incerto .
E assim, eu acabei lembrando que o presidente Lula prometeu criar 10 milhões de empregos nesse seu mandato que já está acabando. Será que ele conta como emprego essa atividade dos nossos ambulantes?
Pensei em perguntar a minhas amigas Kátia e Mariinha, que se recusam a conversar comigo sobre o PT , com o argumento de que devemos manter incólume nossa velha amizade.
Ta bom. É melhor mesmo não falar sobe o tema.
Afinal, Lula passará. ..
Daqui a uns 20 anos a gente conversa sobre o assunto.
Se Deus quiser.

sexta-feira, julho 28, 2006

Êee boi..........

Seguir com a manada
pode ser seguro
e até divertido...
Mas, prefiro o
desconforto
a correr o
risco
de me
confundir,
e ser confundida,
com manchas,
chifres
e tetas....

quinta-feira, julho 20, 2006

Safári Urbano

Segundo Sartre, filósofo francês que fez a cabeça de milhares de jovens brasileiros nas décadas de 60, 70e 80 do século XX e que ainda hoje ainda é o preferido de muitos daqueles que compartilham de sua forma original de ver o mundo, o homem deve fazer uma opção sempre que a sociedade, a política, a educação e os hábitos adquiridos o coloquem numa encruzilhada de múltiplos caminhos. O ser humano, pode escolher entre ser covarde ou corajoso, cúmplice ou denunciador de crimes, acomodar-se a uma determinada situação, ou aceitar ou combater determinada realidade. De qualquer maneira deve afirmar-se nesta ou naquela situação e assumir a responsabilidade da opção, atuando e participando, mesmo que esta escolha se torne inquietante e incomoda.
Estou pensando em Sartre desde que assisti no noticiário da TV a apresentação dos assassinos do economista Victor Athayde Couto Filho, um jovem e talentoso intelectual morto por pessoas que trabalhavam e tinham trânsito livre no condomínio onde morava. A cara dos criminosos me causou repugnância e sentimento de perplexidade. Que espécies de pessoas eram aquelas? Gente? Não. Bichos.
Bichos na mais verdadeira expressão da palavra. Simplórios, idiotas, pareciam não ter consciência do ato que cometeram enm das suas conseqüências. O mentor do crime, Abelha, misto de pedreiro e cantor de Arrocha, teve o cinismo de se fazer de vítima e dizer que matou o economista por ele estar lhe cobrando um trabalho pago e não executado. Sem entrar no mérito moral do crime que chocou Salvador, me revolve o estômago o estágio mental e intelectual dessas criaturas miseráveis, semi-analfabetas, e de uma inteligência tão rudimentar que assusta. Para criaturas assim, ter um carro e uma boa casa é sinônimo de ser rico, de ser ‘barão’. E como bichos que são, agem pelo instinto. José Raimundo Abelha mostrou que além de amoral e cruel é burro.
Me desculpem , aqueles que acham que todos os pobres são vítimas das circunstâncias. Mas, as mentes simplórias são muito perigosas. Não existe razão, não existem argumentos. O Abelha seqüestra um homem conhecido e respeitado para roubar seus cartões e retirar dinheiro do banco, sai do condomínio no carro desse homem, e mesmo depois que a família divulga o desaparecimento, tenta comprar um celular com os dados do seqüestrado, e é visto pelas câmaras da agência bancária tentando retirar dinheiro com o cartão que não lhe pertence. Na verdade, Abelha e seus cúmplices não deveriam estar na cadeia. Deveriam estar numa jaula. E não me venham os farisaicos com pieguices: “Oh, eles são uns excluídos, coitadinhos, a culpa é da sociedade”...
Concordo. São excluídos e o pior - são nossa gente. Somos eles e eles são nós. E aí, fica nisso?
Simplismo

É óbvio, claramente óbvio, que estou sendo simplista. Mas, sou a favor da teoria conhecida como “a navalha de Ockham”, que com base em tudo o que é feito e dito, neste mundo sem pé nem cabeça, afirma que a resposta mais simples é geralmente a resposta correta. Para mim, está mais que claro. A resposta pula, dança, e faz strip-tease na nossa frente: ou se acaba com a exclusão, dando a todos os que nascem e vivem neste país educação, valores, conceitos, e a perspectiva de uma vida digna ou um dia vamos ter que andar pelas ruas como os visitantes num safári: em carros com grades e guardas armados. Educação, comida e moradia digna são direitos de todos.
Outro dia, na rua em que moro, tinha três bichinhos, digo meninos, dormindo debaixo de uma árvore. Descalços, maltrapilhos, cabelos com piolho, batiam nas portas pedindo comida. Alguém que deve ter se sentido ameaçado (e não totalmente sem razão) chamou a polícia. Os policiais vieram e disseram que não tinham para onde levar os garotos, um dos quais era conhecido arrombador de carros da área.
“Não tenho para onde levar eles, minha senhora. O único lugar onde posso levá-los para que não voltem , é para o cemitério”, disse um deles elegantemente.
Sendo assim, os policiais foram embora, os meninos voltaram a pedir comida, algumas pessoas deram e entraram nas suas casas tranqüilas, consciências lavadas com cloro (eu inclusive).
Os meninos foram para as sinaleiras tentar ganhar uns trocados, roubar alguém se tivessem oportunidade, e depois procurar outro lugar para dormir.... No dia seguinte, os meninos foram para as sinaleiras tentar ganhar uns trocados, roubar alguém se tivessem oportunidade, e depois procurar outro lugar para dormir... E no outro dia seguinte, os meninos foram para as sinaleiras tentar ganhar uns trocados, roubar alguém se tivessem oportunidade, e depois procurar outro lugar para dormir...

domingo, julho 09, 2006

A Copa mexeu comigo....


A Copa do Mundo acabou e eu, como a maioria dos brasileiros, fiquei decepcionada com a nossa seleção de estrelas incapazes de ter uma meta, que não fosse aparecer individualmente e brilhar cada qual mais que a outra.
Não sou técnica, não sou aficionada de futebol, nem coisa e tal, mas tampouco sou surda ou burra, e as coisas que eu ouvi e ouço me fazem pensar.
Que droga de jogadores são os nossos que não têm patriotismo, civismo, senso de dever para com a torcida, e que não dão ao povo ao qual pertencem, e que os venera, o orgulho de vê-los jogar como homens, dar o sangue, suor, o melhor de si?
Que percam quando o outro time jogar melhor, mas que percam com dignidade, com luta.
Me pergunto de que são feitos esses jogadores e eu mesma respondo desesperançosamente: da mesma matéria que a maior parte dos brasileiros, cuja filosofia de vida se resume a levar vantagem. Nem sempre a vantagem legal ou de que possam se orgulhar, mas a “vantagem” que nada mais é que mudar o padrão de vida a custa de métodos pouco honrosos, trapaças, trambiques e enganos.
Soube que muita gente revoltada rasgou a bandeira, a camisa e outros símbolos do país. Me choca a falta de consciência cívica desse povo: o que o Brasil tem a ver com uma seleção que atuou com negligência – só pode ter sido negligência não é? Afinal eles não eram os melhores do mundo... De qualquer forma, eles são nós.
Para a maioria, ser brasileiro é ter carnaval, uma boa seleção de futebol e mulheres sensuais, mesmo que beirem a vulgaridade, eque sejam vistas no exterior como objetos sexuais ou prostitutas. No dia em que esses estereótipos acabarem vai ficar o que?
A miséria, a falta de segurança, a demagogia e o populismo barato.
Estou vendo isso.
Mas como não sou pitonisa nem nada, acho que devemos manter a esperança em um milagre verdadeiro.
Que não seja o prometido pelos pretensos salvadores da pátria que não são capazes de salvar nem a si mesmos da calhordice e da falta de rumo.
O milagre verdadeiro de ver o que realmente se passa e saber que temos direito a mais do que um hexa-campeonato. Temos direito a um futuro sem medo, sem fome, e sem corrupção. Bem no mínimo...........

sábado, julho 01, 2006

Não esquecer..........

" E não te esqueças, meu coração, que as coisas humanas apenas mudanças incertas são".
Arquíloco

domingo, junho 04, 2006

Andar de ônibus é resgate cármico



Estou há dois anos sem carro. Ana Amélia, uma amiga advogada, também a pé, define a situação como um ‘resgate cármico’. Achei graça quando ela falou, mas depois parei para pensar: puxa, dois anos andando de transporte coletivo em Salvador é mesmo uma purgação espiritual. Para não falar em expiação física.
Mas, como não posso negar a minha face polianesca, não nego também que apesar dos pesares, andar de ônibus tem seu lado positivo. A gente fica conhecendo a cidade e o seu povo mais de perto. De carro, quando a gente está dirigindo não vê praticamente nada. Só o que está a frente. De ônibus, a gente pode observar o que está dentro e o que está fora: as partes mais sujas, as partes mais bonitas, uma casa numa encosta, uma árvore especial, um canteiro bem cuidado, um canteiro mal cuidado...
Pensar no que a prefeitura deveria fazer para melhorar a vida da população, diminuir os engarrafamentos, tornar as casas nas encostas mais seguras e bonitinhas; perceber o diferencial entre casas sujas e mal-cuidadas e a que se destaca mostrando o zelo do seu dono. Ver as outras pessoas que passam nos carros, nos ônibus, reparar nos rostos que esperam transporte nos pontos...
Quando estou sentada calmamente observo as coisas com um certo humor. Algumas me divertem. Os vendedores que transformam os ônibus em um mercado persa, que a toda hora entram no coletivo e vendem seus produtos (alguns são ótimos marketeiros; compro só pelo discurso). Outra me irritam, como mulheres com crianças pedindo ajuda, gente pedindo dinheiro e contando histórias que acho mentirosas. Decadência...Essas pessoas deveriam ser encaminhadas para um centro de reabilitação. Tipo, é proibido pedir esmolas e você tem duas escolhas : uma chance de ganhar a sua vida honestamente ou ir para a cadeia trabalhando para pagar a 'hospedagem'. Será que é muito chinês? muito Mao? Eu não acho.
Andar de ônibus é realmente um aprendizado .
Acho, inclusive que todas as pessoas que pleiteassem um cargo político deveriam ser obrigadas a andar de ônibus por, pelo menos, um ano. Aprenderiam a ver o que a cidade e o povo precisam. Quem sabe acabassem substituindo a demagogia e a retórica pelo trabalho e senso de dever.
Afinal, resgate é resgate.
E como diz a canção popular, 'o que dá prá rir, dá prá chorar'.
E vice-versa.

Obs. A ilustração que usei é de uma obra de Tarsila do Amaral e chama-se 'Operários".

quinta-feira, maio 11, 2006

De fato

É simples, óbvio, talvez
um clichê.
Deve-se levar em conta
que
as pessoas não podem ser,
mais do que o
que são.
E que não deveriam
ser nunca
menos
do que podem ser.

quinta-feira, maio 04, 2006

Pérola de Fritz

Gosto muito deste poema de Fritz Pearls que li há muitos, muitos anos.
Se existe algo que defina o COMO nos relacionamos uns com os outros, esta é a minha :

"Eu faço as minhas coisas
Você faz as suas.
Não estou neste mundo para satisfazer suas expectativas
E você não está neste mundo para viver conforme as minhas.
Você é você.
Eu sou eu.
E, se por acaso, nos encontrarmos
será maravilhoso.
E, se não
Não há nada a fazer"

quarta-feira, maio 03, 2006

Errar é humano.
Não errar também.
Errar é desumano.
Não errar também.

quinta-feira, abril 20, 2006

1, 2, 3 boca de lobo


Chove forte no Rio Vermelho.
Na rua enladeirada onde moro a água desce de enxurrada alagando a pracinha lá embaixo.
Não há uma só boca de lobo que não esteja entupida.
Vou ao telefone e ligo para o 156 - Serviço ao Cidadão. A secretária eletrônica atende e diz que logo serei atendida. Entra o jingle da "Prefeitura de Participação Popular".
“Quem ama tem respeito, quem ama só quer o bem ....quem ama assim de verdade não maltrata nem com uma flor, cuida bem de sua cidade quem ama São Salvador”...
Bonitinha a música... Despretenciosa...
O jingle entra de novo, de novo, e de novo: 40 segundos cada vez, sete, oito, nove vêzes. São 360 segundos de propaganda. Seis minutos. Terei que esperar mais 400 segundos, mil segundos?
As bocas de lobo vão continuar entupidas.
Desligo o telefone.
Vou ter que molhar os pés quando sair de casa.
O som da chuva é quente e aconchegante.
Mas eu odeio molhar meus pés.
Antes, quando era menina adorava tomar banho de chuva nas calhas das casas.
Botava o maiô e corria para as ruas com meus irmãos e outras crianças.
Era bom pular nas poças e contar pingos d’ água.
Até que minha mãe chegasse, ralhasse e nos botasse de castigo.
Que delícia o barulho da chuva...............
A menina da foto sou eu, aos 9 anos, num concerto em Feira de Santana.

quinta-feira, abril 13, 2006

Os olhos do padre Pinto


Padre Pinto largou a batina.
Foi expulso da casa onde viveu por várias décadas.
O caminhão de mudanças saiu na terça-feira da Lapinha levando os pertences do padre que promete botar prá quebrar.
Vai lançar um livro que se chamará “Confissões” sobre os seus 40 anos na Igreja.
Deve ter gente tremendo de medo.
Por outro lado, leio nos jornais que a CNBB recomenda aos católicos que não assistam ao Código da Vince. Por que isto me lembra religiões que fazem da ignorância dos fiéis a garantia de manutenção do poder?
Li o livro e é muito interessante. A história é tão possível quanto outros fatos narrados pela Bíblia. Ou tão impossível quanto.
Por que a Igreja não se dedica mais ao que Jesus pregou e não com a sua vida e morte?
Quanto ao padre Pinto, ele agora mostra a sua verdadeira face. Ou melhor, a que provavelmente sempre sonhou ter: cabelo vermelho, olhos pintados e batom metálico.
Para os curiosos, o novo padre pode ser visto em ensaio fotográfico no site www.globo.com/foto(underline)galeria/padrepinto, fazendo pose e com um cigarro na mão.
Enfim, a liberdade?

quarta-feira, abril 05, 2006

Uns e outros.......


Socorro Araújo, minha colega de trabalho, disse que só tenho amiga maluca. “E amigos tam-bém”, emendei. Alguns , por serem tão convencionais, tão tudo certo, tão tudo ok, não podem ser normais...
O certo é que toda pessoa é uma história.
Alegres, tristes, algumas que parecem linhas retas, outras sinuosas e curvas.
E histórias que podem ter isso tudo e muito mais.
Felizmente para mim, uma pessoa curiosa e inquieta, tenho amigos interessantes. Para o bem e para o mal. A maioria deles valeria um livro.
Contudo, como nem sempre o olhar do outro é o mesmo que o auto-olhar, quando esse auto-olhar existe, opiniões sinceras, mesmo que afetuosas, podem acabar em inimizade(imagino só o que meus amigos escreveriam sobre mim; provavelmente eu não iria gostar nem um pouco. E é claro, estaria coberta de razão).
Porém, é incontestável que determinadas pessoas, mais que outras, são fontes inesgotáveis de histórias: engraçadas, chocantes, subversivas, idiotas, substantivas, adjetivas e superlativas.
Tudo que elas fazem se transforma em motivo de comentários. São pessoas ricas, mesmo que não tenham um tostão. Suas existências tornam o mundo mais divertido, mais instigante, mais agradável. Elas próprias escreveram suas histórias e a reescrevem todos os dias.
Tem coisa mais chata que viver a vida que escolheram para nós?
Eu acho que não.

quinta-feira, março 30, 2006

Perdão Emília



Emília é nome de música.
A de Mário Lago, uma anti-homenagem, e a outra, a que lembro de ouvir minha avó cantar, é patética e ficou na minha memória. Eu voltei a ouvi-la já adulta, quando acabava meu curso de Jornalismo no Rio, e trabalhava no hoje extinto Teatro Opinião, em Copacabana. . Não, eu não era atriz, apesar do meu talento reprimido. E trabalhar é força de expressão. Eu era a moça da livraria. Por algum tempo, tomei conta do stand do teatro vendendo livros e programas das peças, um trabalho em que não ganhava praticamente nenhum dinheiro, mas onde me divertia bastante e conhecia muita gente interessante.
A música, cantada debochadamente por um grupo de samba muito bom, contava a história de um don Juan que ,cheio de remorsos por ter provocado o suicídio de uma donzela, ia pedir-lhe perdão na beira do túmulo. Minha avó só faltava chorar quando a ouvia no rádio. Eu a achava esquisita. Hoje vejo que ela é hilariante.
Sim, mas Emília é também o nome de uma amiga de minha irmã Alba, e ela não tem nada de trágica. Pelo contrário. É altíssimo astral. Só que como a maioria dos artistas , e das pessoas criativas, um pouquinho desligada. Emília me fez prestar mais atenção na minha indumentária praieira- o máximo do meu desligamento foi sair com uma saia cuja bainha estava apenas alinhavada, e com uma blusa pelo avesso ( em ocasiões diferentes, é claro).
É que Emília acordou radiante num domingo de sol também radiante. Pegou o biquíni, vestiu-o, e estava quase saindo quando o telefone tocou. Perdeu uma meia hora de sol batendo papo. Enfim, tchau, tchau. Amarrou a canga na cintura e se dirigiu para o Farol da Barra., praia que costumava freqüentar com os amigos e que ficava perto de sua casa. A praia estava coalhada de gente, o mar azul, e o barquinho a navegar....
Emília andou, andou, andou, como sempre, metendo os pés na água azul e morna.. Mas, dessa vez havia alguma coisa diferente. As pessoas a olhavam quando passava, uns de esguelha, outros fixamente, e ela achou estranho. Afinal, não era mais uma menina , e nunca fora uma miss. Que coisa!
Bom, fazer o que? pensou despreendida até que, ao passar por ela, um velho acompanhado da mulher olhou em sua direção desaprovadoramente, virou para o lado e cuspiu.
Que choque. Ela parou e pensou: “o que será que tem de errado comigo?”. Num balanço rápido veio a resposta: “Meu Deus, esqueci de colocar a calcinha do biquíni”.
Não, não estava nua (antes estivesse). Vestia uma calcinha velha, que aqui o pessoal mais antigo chama de calçola. Uma calçola branca, com o elástico esgarçado, manchada de tinta, e com alguns furinhos , que ela adorava usar dentro de casa..
Sentiu que o mundo desabava. O dia radiante não era mais radiante. Viu tudo negro na sua frente. . E não sabia se era de vergonha ou de raiva .
Diante do impasse, fez o que qualquer mulher sábia faria. Sentou numa pedra e chorou, chorou, chorou...

domingo, março 19, 2006

Doces e portas


Eu estava dando uma olhada nas fotos do site de minha amiga Stela Alves sobre a Grécia e uma me encantou especialmente. A da entrada de uma casa. Esta que vocês estão vendo. Adorei as cores da fachada e os vasos com plantas. É uma casa grega, mas poderia ser uma casa em qualquer lugar no mundo. A casa de alguém que gosta do lugar onde mora e que faz da sua casa um cantinho muito próprio, muito pessoal, muito especial. Uma casa, onde as pessoas que chegam devem pensar que serão sempre bem vindas.
E devem ser. É claro que Stela- sempre ciosa do seu trabalho- me deu autorização para editar a foto. Com ela, é assim. . .
Quem quiser ver as fotografias( tem umas ótimas da Bahia ) pode entrar no site dela: www.stelalves.com.
Ah, gente, fui a um aniversário ontem e comi doces feito uma criança....
Hoje estou muito mal.
Bem feito. Mais uma culpa para minha lista .
A questão é: sei que comeria todos novamente.
Estavam maravilhosos....

domingo, março 12, 2006

Que falta me faz a fluoxetina...

Hoje fez 15 anos que minha avó, Flora, mãe de meu pai, morreu. Agora, que lembrei...
Como o tempo passou rápido. Parece que a vi ontem.
Vem um sentimento esquisito. Não é saudade. É alguma coisa como agradecimento....
Ela gostava tanto de mim. Eu me sentia tão especial para ela.
Minha outra avó, Raquel, 93 anos, passou mal anteontem.
De raiva. Com o final da novela da Globo.
“Como é que aquele idiota (teria dito ela se referindo ao autor Walcyr Carrasco) faz a gente assistir a novela quase um ano para ver os artistas morrerem no final?”
Minha tia-avó, Cele, também passou mal. As duas estão mais que revoltadas. E prometem não assistir mais novelas em que os personagens principais morram no fim.
Minha mãe, que quase nunca concorda com o que minha avó diz ou pensa, está fechada com ela. Achou o final péssimo, feito para espíritas. E ela é batista. Meu bisavô foi pastor.
Aliás, quando eu era menina, em Jequié, nos domingos de manhã ia para a Igreja Batista, com a minha mãe e minha irmã Alba, onde recitava, cantava e satisfazia minha vontade de aparecer.
No final da tarde lá ia eu para a missa, com minha avó Flora, catolicissima, carregando um catecismo, um terço e usando um veuzinho rendado na cabeça. Era o máximo. Eu me sentia como uma santa que acabasse de descer do céu. Domingos de sapatos brancos, anáguas rodadas, vestidos de festa, e culpas: "toda malcriação que você faz é um espinho que você coloca na coroa de Jesus"....
Hoje, percebo , acordei com um surto hipocondríaco, dor nas pernas e nas costas. Lembrei que minha amiga Lúcia F., que morreu de câncer, detectou um caroço no seio após sentir dores nas pernas. Estou deprimida?
Será vovó Flora, vovó Raquel, Lúcia F., as almas gêmeas?
Passei boa parte do domingo arrumando meu quarto. O armário ficou dez: blusas e casacos de um lado, calças e saias de outro, sapatos arrumados nas caixas; perfumes e cremes numa prateleira; pastas separadas com recibos, notas fiscais, documentos e fotos. Por vias das dúvidas tudo em dia. “Eu sempre fiz o que quis na minha mocidade”....
Espero continuar fazendo tudo o que eu quiser. E não fazendo o tudo o que eu não quiser.
Mas, confesso, tem uma coisa que perdi e lamento : nunca fui anjinho de procissão...

Ah, Sosígenes..e eu nem sabia que você existia...

Descobri Sosígenes Costa bisbilhotando num stand da Empresa Gráfica da Bahia. O livro, um estudo de Gerana Damulakis sobre ele, chama-se “Sosígenes Costa, o poeta grego da Bahia”. Não o conhecia. Sua obra vai de 1921 a 1960. Poeta de altíssima qualidade.
Gostei especialmente deste soneto que transcrevo agora:

Emendando um soneto

Eu matei meu amor e foi bom que o matasse
Meu amor era um lírio e eu não gosto de lírio.
Se ele fosse a madona, eu talvez me casasse
Para o amor me adorar e eu gozar-lhe o delírio.

Eu matei meu amor sem beijá-lo na face.
Meu amor era um lírio e eu não gosto de lírio.
Se ele fosse o meu anjo, eu talvez me casasse
Para vê-lo fumando e descendo do empíreo.

Ninguém sabe quem foi meu amor que matei.
Era o anjo da morte?Era a filha de um rei?
Este crime é um mistério... e é bonito o mistério.

Este segredo azul pus num cofre sidério
Mas em suma eu fiz bem em matar meu amor,
Porquanto ele era um lírio e eu não sou beija-flor.


Por falar em grego, recebi mensagem de Stela Alves, fotógrafa amiga e ex-colega de reportagens e de aventuras na Tribuna da Bahia, quando éramos quase meninas. Hoje, ela vive na Alemanha. O e-mail com o seu site era um presente com fotos da Grécia.
Que azul lindo o daquele mar ...
Mas, falar em mar, não tenho inveja. Hoje à tarde andei na praia, tomei banho na água verde acinzentada gelada por uma frente fria, que ,segundo o Serviço Meteorológico, deve chegar esta semana.
Foi tão bom.................

sexta-feira, março 03, 2006

Boker Washington

Quem disse que a "Caras" não é cultura?
Esta pérola encontrei num exemplar da revista que folheava meio indiferente, meio enfadada, no consultório da minha dentista.
"Jamais permitirei que uma pessoa me leve a odiá-la e com isso amesquinhe e degrade a minha alma". Boker, adorei ele, é- um cara assim não morre- um ex-escravo e educador afro-americano. Não sei se ele realmente conseguia isso.Talvez sim. Pessoas de alma grande sublimam mais e melhor.
Como falei em alma me lembrei de outro que eu gosto muito (ou como leitora de "Caras" melhor dizer que "amo de paixão") que é Fernando Pessoa: "Tudo vale a pena se a alma não é pequena". Não é assim mesmo?
Quanto ao meu gosto literário devo dizer a meu favor que leio qualquer coisa para passar o tempo. De bula de remédio a revista de automóveis. Aliás, na minha próxima encarnação quero ser mecânica.
Enquanto isto, viva a variedade literária.
A gente pode não ganhar muita coisa , mas aprende sobre a diversidade humana. E todo aprendizado é uma aquisição e nos torna mais ricos. Eu acho...
E para continuar no clima : "beijos no coração"

segunda-feira, fevereiro 20, 2006

Homens de avental


Quem acha que homem não esquenta a barriga no fogão, está mais do que certo.Não esquenta mesmo. O negócio deles é entrar na cozinha e sair o mais rápido possível. Eu adoro este estilo culinário masculino. Outro dia , entrei no restaurante do jornal e me sentei numa mesa eminentemente masculina onde se falava de tudo. Até de comida.
Pensando na quantidade de legumes não aproveitados na geladeira, me virei para Dimitri, paginador e artista gráfico, e comentei que estava com um monte de chuchu pedindo para ir pro lixo (eu sei gente, chuchu não fala, é apenas uma expressão). Ele me sugeriu que eu fizesse suflê. Logo, logo todos os sabidinhos começaram a me dar receitinhas e eu fiquei encantada. Não porque goste de cozinha, muito pelo contrário, mas a possibilidade de ter uma autonomia culinária, mesmo não sendo das mais saudáveis (estes meninos adoram mussarela e ovos) peguei um caderninho e comecei a anotar.
Resolvi botar algumas receitas de pratos e lanches rápidos neste blog pensando em ser útil aos que , como eu, são avessas e avessos a perder tempo no fogão. Não que eu ache ruim gostar de cozinhar. Hoje em dia os homens e as mulheres modernos têm que saber se virar. Gosto não se discute, diz o velho ditado. Eu, na verdade, prefiro degustar.
Mas aí vai:

Souflê de Dimitri
É facílimo. Põe o chuchu no fogo (dentro de uma panela com água é claro) depois de descascá-lo e cortá-lo em rodelas ou no sentido longitudinal, como preferir. Quando ele estiver cozido bota prá escorrer. Então, pega uns dois ovos ou mais, a depender da quantidade do chuchu e de quem vai comer, bate as claras e depois mistura com a gema batendo bem. Arruma uma camada do chuchu num pirex, joga os ovos em cima bota uma camada de queijo mussarela e leva ao forno.Fica olhando para não deixar queimar,tá ? Eu deixei.

Tortillas de Dadá Jaques
Material empregado: batatas, ovos,cebola e sal
1º Descasca a batata e corta em fatias circulares grossas
2º mergulha na água e sal e deixa descansar 15 m
3º Pega uma frigideira profunda e coloca bastante óleo
4º quando o óleo estiver quente enxugar as batatas com um pano limpo
5º bota a batata prá fritar até ficar douradinha
6º tira a batata e coloca num papel toalha;guarda o óleo
7º bate a clara o ovo, depois mistura e bate bem;tempera com sal
8º bota uma camada suave de óleo na frigideira, joga o ovo, quando começar a endurecer joga a batata e o ovo por cima e tampa
9º quando ficar toda assadinha, pega uma espátula e vira o lado; na verdade, parece um omeletão de batata
10º Será que ficou bom?


Miojo de Luís Marcelo
Bota a água pra esquentar e bota o miojo dentro.Depois de ferver escorre tira o miojo com uma parte de água; deixa outra parte na panela. Na panela com a água bota uma colher de extrato de tomate, uma colher de sobremesa de manteiga ou margarina, o pozinho do miojo e ketchup a gosto. Mexe e mistura os ingredientes. Luís Marcelo garante que é uma delícia....Hummm..Sei não.

Bom, tem alguma coisa com abóbora que parece ótimo, mas eu não anotei ainda.
Tem também o purê de Jamil (só de pensar minha boca enche de água).
Segundo ele é receita de Dadá, não o Jaques, mas a quituteira mais famosa da Bahia, dona do Tempero e do Varal da Dadá
É assim: pega banana da terra e bota pra cozinhar; quando estiver mole, bate a banana com um garfo. Põe um pouco e manteiga numa panela, joga a banana amassada e vai colocando creme de leite até ficar com a consistência de um purê. Não parece delicioso?
É como eu ( e muita gente sempre diz ) : nunca é tarde para começar -um clichê é claro E eu acrescentaria: e nem para terminar. Espero começar e terminar este meu livrinho de receitas rapidinhas. Aliás, espero experimentar todas elas.
Beijos e um bom início de semana para todos.

terça-feira, fevereiro 07, 2006

Tulipa Azul

Virtude fundamental
é a integridade.
Permanecer una
quando o mundo
ao redor
se desintegra.
De mim,
os amigos
podem esperar
honestidade,
lealdade,
e a defesa.
Os inimigos,
se eu os tiver,
não devem
se preocupar
comigo.
Não os vejo,
não sei
quem são,
não sei o
que falam,
não me interessa
o que pensam
ou o que
fazem.
Na minha vida
eles não
existem.
E não sou nihilista.

sexta-feira, janeiro 27, 2006

O dia em que o síndico subiu no telhado

Vida difícil a de síndico Ainda mais síndico de prédio pequeno que às vezes tem que fazer papel de encanador, de eletricista, e até de conciliador. Um dia a bomba quebra, no outro quebra o portão da entrada, o zelador não aparece, os jornais desviados que não chegam aos donos, infiltrações, vazamentos etc.Paciente, Fofo, como era mais conhecido graças ao seu fair-play e a alguns quilinhos a mais, sabia bem o que isso significava como síndico de um agradável prédio no bairro do Rio Vermelho há oito anos, cargo que nenhum morador queria e que ele ia empurrando com a barriga.
Sempre que podia fazia ouvidos moucos para as queixas que surgiam por todos os motivos possíveis. Uma delas, e que também o incomodava, era contra o vizinho pagodeiro - de outro prédio – que transformava os domingos da vizinhança num inferno de mau gosto e de barulho. Fazer o que? Enfrentar o marombado exibicionista? Limitava-se a dar sugestões: chamar a Secretaria de Meio-Ambiente ou comprar protetores auriculares. O estresse estava demais.
Felizmente tinha resolvido o problema do vazamento no terceiro andar, que vinha se protelando há quase seis meses, com o conserto do telhado.
Findo o trabalho, os operários foram chamá-lo para que desse o ok e pagasse as contas.“Sêo” Fofo subiu tranqüilamente para o telhado e fez a inspeção se dando por satisfeito. Na hora de descer veio a caruara. Como foi que conseguira passar por aquele buraquinho no teto do prédio? Só agora reparara que a escada estava bamba, era pequena, rudimentar e provavelmente não agüentaria o seu peso. O que fazer? O senhor consegue “Sêo” Fofão tentavam animá-lo os operários, loucos para dar o trabalho por terminado.A moradora do 3º andar, pomo da questão colocou a cabeça na varanda e gritou “você quer que eu chame o Corpo de Bombeiros?”Nem pensar. Imaginou o caminhão fechando a rua e o trânsito, e ele se transformando no assunto principal dos porteiros e empregadas da rua por pelo menos alguns meses... “Cuidado você vai pegar uma insolação”, gritou uma outra vizinha, sugerindo maldosa: “Por que você não dá uma de Mary Poppins? Quer que eu arranje um guarda-chuvas?”
As tentativas de ajuda se multiplicavam. Os operários pregaram o resto de uma escada quebrada na outra e insistiam para que ele a usasse. Nem morto.
Contudo, depois de 4h sob o sol escaldante de uma manhã de verão baiano, exausto e pressionado pelos operários já exasperados, ele cedeu. “Seja o que Deus quiser”, pensou. Colocou o pé no primeiro degrau. A escada não quebrou. Mais um pé, mais outro e mais outro. Nunca ficou tão feliz ao pisar no chão. Agora era tomar banho e ir trabalhar. Mas como vestir a camisa? Estava vermelho e sua pele toda doía. Ao chegar no trabalho, a curiosidade dos colegas: “por que você está tão queimado?Estava na praia”? Fingia que não ouvia até que por fim uma colega indiscreta a quem coonfidenciara o drama revelou: “ Que praia que nada, ele subiu no telhado e não conseguiu descer”.
Bom, agora era agüentar as gozações e torcer para que a dor das queimaduras passasse logo. Afinal, síndico era para essas coisas...

terça-feira, janeiro 17, 2006

Padre Pinto saiu da batina

Minha amiga Mariinha ficou intrigada porque eu escrevi no meu textinho sobre o Bonfim que ano que vem irei a festa, mesmo que esteja morta, e logo em seguida falei sobre minhas preocupações com o Padre Pinto. Como psicanalista, que ela é, vive procurando sentidos perdidos nas entrelinhas.
Será que tem?
Padre Pinto está mais vivo do que nunca.
Depois de saracotear no dia da festa de Reis, na Igreja da Lapinha, de olhos pintados, trajando uma batina amarelo-ouro em homenagem a Oxum, e de se vestir de índio no dia seguinte, dançar nas pontas dos pés , sacudir os ombros, deleitar alguns fiéis e chocar outros, ele foi obrigado a consultar um psiquiatra e sair de circulação por uns tempos. " Estaria sofrendo com a execração pública ?".
Pobre padre, um homem com alma de artista preso numa batina ( ou quem sabe protegido por ela) . E que saída espetaculosa...
A Igreja tão misericordiosa com padres pedófilos, 'irmãos necessitando de ajuda', garantiu seu status quo divulgando que o padre/dançarino estaria precisando de cuidados terapêuticos. Ele que não fez mal a ninguém. Apenas nos espantou, nos divertiu, e nos deixou melancolicamente pensando no sentido da existência. Soltou sua vontade de dançar, um direito a alegria quem não tem?
E eis que hoje abro jornais locais e lá está ele: alegre e fagueiro. Bronzeado pelo sol da ilha, cheio de novos amigos, calça de cordão, camiseta, muito colares, pulseirinhas da moda, boina de negão na cabeça, sorridente. Cheio de planos.
Será que a Lapinha perderá um padre e Salvador ganhará mais uma estrela na sua imensa constelação?
Minha simpatia para Padre Pinto que me fêz rir e pensar.

sexta-feira, janeiro 13, 2006

Ano que vem eu vou

Eu não fui à festa do Bonfim ontem. Que raiva.
Não que eu seja festeira embora, quem não me conheça bem, ache que eu sou
Mas, a festa do Bonfim é a minha preferida entre todas da Bahia.
Apesar de ter fé não costumo mais ir a pé até a Sagrada Colina.
Mas me divirto muito ficando na Cidade Baixa vendo passar as baianas e todo tipo de gente. Adoro as fanfarras.
Depois que tiraram o Trio Elétrico ficou muito melhor.
E as figuras que aproveitam o cortejo para curtir seus 15 minutos de fama? Deliciosas.
Pois é. Não fui. Optei por concluir uma pilha de trabalho que me esperava.
Não sem sensação de perda. Perda de momentos alegres e de interação popular.
Vi pela Tv , no trabalho , junto com uma colega que a cada cena ficava toda arrepiada.
Essas festas populares também me arrepiam.
Ano que vem, eu vou. Até morta, eu vou.
Agora, sem mais nem menos me lembrei de Padre Pinto.
Como será que ele está ?

domingo, janeiro 08, 2006

Quem diria....

Ando meio
sem saco
sem pulso
sem laço.
O tédio me ronda
como um gato.
E eu que
pensava
que ele já
estivesse
morto
e
enterrado.

quinta-feira, janeiro 05, 2006

O misterioso réveillon de Marta

A pelo menos 20 anos elas se encontravam, sempre nos finais de semana, para conversar e colocar as novidades em dia. Desta vez o encontro no primeiro dia do ano foi na praia de Piatã, onde costumavam andar na areia e assistir ao por do sol, cercadas por coqueiros, vendedores de coco, cachorros vadios , turistas, e os insuportáveis candidatos a craques de futebol.
"Onde voce se meteu no réveillon?" perguntaram cinco vozes a Marta , que sumiu no dia 31 só reaparecendo no dia primeiro, quando ligou convidando - as para comer peixe frito na praia.
Marta desconversou enquanto elas se distraíam com comentários sobre os festejos: o réveillon na Bahia Marina que custou R$ 1 mil, " que desperdício! como você teve coragem?", a festa na Praia da Paciência, cenário do filme Luar em Parador, com Sonia Braga, "gostei mais do ano passado na Cruz Caída", o réveillon na cama- dormindo, o réveillon em família. " E você passou aonde?"
Marta,tensa, foge de pergunta. "Que segredo é esse?", insistem.
- Não me diga quer voce voltou com Bin Laden , fala Sonia se referindo ao ex- magrelo e barbudo da amiga .

- Não, não foi nada disso.
- Então criatura, conte logo, que mistério é este? Afinal, onde você passou o réveillon?
Pressionada, Marta conta envergonhada : "Sabem Lícia, minha vizinha, que em 2005 foi para a Finlândia, Noruega, Suécia, visitou a Índia, a Espanha e o Chile e ainda por cima reformou a casa?
-Sim, respondem em uníssono...
- Bom , ano passado ela fez uma simpatia que ensinaram a ela e deu no que deu. Este ano eu resolvi experimentar ...

- Para isto tinha que ficar em casa?
-Não necessariamente, se você não tem uma reputação a zelar. É assim: a gente tem que ficar com uma mala vazia rodando ao redor de uma mesa na hora da virada, falando compassadamente : dinheiro, viagens, amor, dinheiro, viagens, amor, " confessa ressabiada esperando o sarcasmo do grupo: afinal, como é que uma mulher na idade dela, ex-marxista, psicanalisada, financeiramente independente, culta, razoavelmente viajada, pode se ligar numas bobagens dessas?

Resignada, espera o veredicto.
As amigas se entreolham, e indignadas se viram para a traidora perguntando quase ao mesmo tempo :
- Por que é que voce não nos chamou???