quarta-feira, julho 22, 2009

Com as bençãos de Lord Ganesha


É ótimo voltar a assistir novelas. Eu estava tristemente viciada nas séries de Tv a cabo Uglly Betty, CSI, Law e Order e Will Grace. Nada contra as séries americanas, muito bem produzidas e com um bom roteiro, mas cansei de ver os mesmos episódios se repetirem todos os dias. Já estava com saudade das novelas . Eu estava com saudade das novelas brasileiras, e me sentia uma ET sem saber o que estava acontecendo com Flora e Cláudia Raia, mas as novelas que geralmente eu assisto, que são as da Globo-que posso fazer se sou uma pessoa simples e com gosto popular?- eram insuportáveis de chatas. As atuais estão mais divertidas. Gosto especialmente de Caminho das Índias pois já aprendi a falar hare baba, tchai, tik,(engraçado como eles falam bem o português) e quando estou chateada desmaio ou ameaço me lançar num poço com uma pedra amarrada ao pescoço( mas nem no palacete de Opash tem água encanada?).
Verdade seja dita, estes últimos episódios estão muito legais, principalmente nas terças quando após a novela entram os Casseta e Planeta- Lord Ganesha que me perdoe estou fazendo propaganda para a Globo! Desculpem os meus amigos intelectuais e os adversários da rede, culpada por tudo de ruim que acontece no país desde 1964, mas ainda acho o programa engraçado. É a palhaçada da Palhaçada.
Neste momento, quero dizer que esta semana me sinto unida a todas as noveleiras do país que estão assistindo, com toda certeza, os lances mais esperados do folhetim: a desgraça de Raul Cadore. Gente, como é legal vê-lo catando lixo nas ruas! Como é que alguém pode criticar Glória Perez por ter tanta imaginação e propiciar vinganças tão justas que fazem as mulheres respirarem aliviadas: Hare Krishna !

sexta-feira, julho 10, 2009

Brincos de fumaça



De novo outra vez. Não é possível. Sim, é possível. Aconteceu de novo. Coloquei alguns brincos e anéis de prata para ferver com água e sal como aprendi em bate papos imprescindíveis com as amigas onde a gente conversa sobre tudo: do momento político, melhor filme em cartaz, nossas vidas, as vidas dos outros e os pequenos fatos e acontecimentos do dia a dia.
Estava no fim da revisão de um livro com 70 mil palavras que estou fazendo para um amigo perfeccionista que quase não deixa nada para revisar quando sinto um odor ácido de coisa queimando. Corro para a cozinha. Não são meus adereços que estão soltando fumaça. É a própria panela onde os coloquei e onde eles estão grudados. Droga!
Devem ter quase umas duas horas no fogo. Estão pretos. Não é que momentos como esses sejam incomuns em minha vida. Talvez seja por isso que não gosto de cozinha; a gente tem que ficar em alerta o tempo todo. Será que Gilmar Mendes tem razão? Que ser jornalista e exercer trabalho intelectual é a mesma coisa que misturar temperos? Não que eu esteja menos prezando o trabalho dos cozinheiros. Longe de mim. Acho que um bom cozinheiro (viu, Ricardo?) vale mil vezes mais do que mau juízes.
Mas, este não é o meu assunto de hoje. Os brincos queimados me remetem a quase 30 anos atrás, no Rio de Janeiro, onde morava na época. Minha amiga Celinha tinha ido passar o dia lá em casa e se ocupava com alguma coisa que não lembro quando vimos uma fumaça negra saindo da cozinha. Saíamos correndo e eu aos prantos vi que eram minhas lentes de contato, que na época custavam caro, e que eu tinha colocado para esterilizar. O estojo onde elas se encontravam derreteu. Minhas lentes derreteram, a panela foi para o lixo. Mas, a culpa foi de Tolstói. Celinha se dividia entre me consolar e achar engraçado. Eu estava solidariamente acompanhando a histórias de Anna Karenina, heroína russa, casada, cuja paixão fatal por um oficial acabou por levá-la para baixo das rodas de um trem(será que é isso mesmo? Faz tanto tempo. Eu era quase uma menina). Fiquei por demais entretetida com o romance, que li quase num fôlego só , torcendo por Anna, o que hoje 30 anos depois eu não faria mais.Quem manda ser burra?penso eu hoje.. .Aliás, ela está em minha galeria de mulheres idiotas de braços dados com Madame Bovary. Se quer trair, faça direito e não fique romantizando como se faz aos 17 ou 20 anos.É só um escape, um passatempo. Para um mulher infiel eu diria: deixe de ser imbecil; pense como um homem, como seu marido certamente terá pensando em alguns momentos do seu casamento.
Quero dizer que não sou adepta da infidelidade, nem da traição. Mentir dá muito trabalho, uma mentira puxa outra, e assim se acaba toda a sua tranqüilidade. Portanto, acho imprescindível que se saiba o que está fazendo e o porquê. Se é porque o seu casamento não está bom ou acabou livre-se dele e não precisará ficar mentindo, coisa mais chata. É claro que dizer a verdade sempre pode causar prejuízos irreparáveis para si e para os outros.Fiquemos então com as pequenas mentiras, educadas, que não prejudicam ninguém e que não lhe tiram o sono . Sim, porque as mulheres em sua maioria não suportam a pressão de viver mentindo nem de ir para cama com o marido estando apaixonada por outro. Sim, na cabeça delas isso é que é infidelidade.
Mas não sei por que estou falando nisso. Meus brincos, me levaram às minhas lentes que me levaram a Anna Karenina que me levaram às mulheres infiéis.Coisa que nunca fui porque nunca escondi nada do que fiz para os meus namorados, que é claro,não suportaram. Então, hoje, viver sozinha, é para mim extremamente libertário. Faço o que quero, na hora que tenho vontade, não engano nem magôo ninguém, não me violento tendo que mentir ou me esconder. Decididamente, não gosto de viver perigosamente. É bom. Muito bom. Mesmo queimando lentes, anéis e brincos.

sábado, julho 04, 2009

Antes tarde do que nunca


Finalmente, algo positivo nesta cidade: a Setad- Secretaria do Trabalho e Assistência Social da prefeitura está colocando em prática um programa que acredito ser de suma importância para resgatar a auto-estima do baiano. Não apenas dos envolvidos no projeto, mas de toda a sociedade.Numa parceria com o Ministério Público da Bahia e com a Fundação José Silveira, a Setad, comandada por Antônio Brito, colocou mãos a obras e iniciou um trabalho dificil e complicado que se der certo vai promover uma mudança que a sociedade deseja há muito: tirar mendigos, loucos e sem tetos da rua. Não para jogá-los num depósito qualquer, mas para tentar ressocializá-los integrando-os à sociedade.
Uma utopia? Parece, mas se não se tentar nunca se vai saber. Obviamente, nem todos os moradores de rua querem sair dela, porisso o trabalho é ainda mais complicado. Médicos, enfermeiros,psicólogos, e assistentes sociais entre outros profissionais estão envolvidos no processo que começa com a abordagem e convencimento dos sem teto de perspectivas melhores de vida.
As crianças e adolescentes são alvos prioritários do programa que está dividido em 11 árease que tem o Centro Histórico como um dos seus pontos principais. Até o final do ano, a Secretaria pretende lançar uma campanha para envolver toda a sociedade baiana. É ingenuidade e até burrice acreditar em qualquer tipo de desenvolvimento, se a melhoria da qualidade de vida não for extensiva a todos os segmentos sociais.
Já passou do tempo de buscar salvadores da pátria e colocar a mão na massa.

Na foto de Margarida Neide, distribuída pela Setad, o prefeito João Henrique, o secretário Antonio Brito e o procurador Lindinalvo Brito no lançamento do projeto

quinta-feira, julho 02, 2009

Nasce o sol a Dois de Julho.....


Hoje dei uma entrevista para a Band. Estava em frente à Igreja do Carmo assistindo o desfile do Dois de Julho quando um repórter, muito jovem, aproximou o microfone para me entrevistar. Minto. Não foi bem assim. Ele colocou o microfone na boca de uma menina e perguntou qual a importância do Dois de Julho. Ela, inibida, não quis falar. Respondi por ela: “A importância está no fato da independência do Brasil só ter se dado realmente após a expulsão das tropas portuguesas do Brasil, expulsas pelos baianos em 1823. A independência não aconteceu à margem do Ipiranga. Correu sangue por aqui.” Então, ele perguntou se eu estava ali para cumprir um dever cívico. E eu disse que para mim , estar ali não era dever era prazer.
De fato, o Dois de Julho com a Lavagem do Bonfim são as minhas preferidas do calendário de festas baianas. No Dois de Julho, curto o que acho a desorganização mais organizada do mundo. Posso estar sendo exagerada, mas duvido que tenha outra festa igual: pessoas de diferentes níveis sociais e tendências políticas, preferências sexuais, e nacionalidades, todo mundo num cortejo sem cordas com lugar para protestos, declarações de diversos tipos e muita ,muita ,alegria. Até os doidos se sentem à vontade para participar do dançando, cantando mostrando suas faces sofridas, e seus corpos marcados sem que ninguém os incomode ou diga que não deveriam estar ali.
As filarmônicas, bandas militares, fanfarras e as bandas escolares são um caso à parte. Os garotos e garotas vestidos com roupas de gala, de tecidos não muito caros, levam à sério o papel que lhes cabe seja tocando um instrumento ou fazendo coreografia. Todos arrumados, produzidos e muito dignos . Vi um louco dançar até cansar o cinegrafista que o filmava. E com muito ritmo. Quase nu, de sapatos, meias pretas até o joelho, uma cueca marrom com um galho de arruado, ele “quebrou” como se diz por aqui .“ Coitado, não tem nem orelha” disse uma mulher se referindo ao corpo cheio de cicatrizes e à falta de uma das orelhas do sujeito, que drogado ou não, mendigo ou não, maluco ou não ,estava feliz e dançou muito.
“É difícil uma pessoa de fora entender isso aqui”, observou uma amiga ao meu lado.
É verdade, pensei. Isto é uma mistura de provincianismo e universalidade, de deboche, de anarquia, e principalmente de democracia e de respeito às tradições. No cortejo sai quem quiser do jeito que tiver vontade- só não vale agredir aos outros, nem jogar ovos no prefeito como aconteceu hoje.
No meio do desfile um grupo passou tocando instrumentos de percussão.”Quanto quer apostar que eles são gringos”?, indagou um senhor. De fato, eles eram gringos de diferentes nacionalidades. Estavam um pouco fora do ritmo, porém completamente dentro do espírito da festa.
Depois de duas horas vendo passar mais gente conhecida que estranha, ver duas amigas em companhia do delegado Protógenes, fomos almoçar no restaurante de Celina, no Pelourinho. Ela se queixou da falta de apoio do governo estadual. Aliás, os comerciantes do Centro Histórico não morrem de amores pelo governador Jaques Wagner, nem pelo seus secretários de Turismo e de Cultura aos quais atribuem o abandono a que o local, patrimônio da Unesco, está relegado. Colocaram até um palco no Terreiro de Jesus para apresentação de música, coisa que nunca vi no Dois de Julho, com um apresentador louvando “a grande festa” patrocinada pelos secretários
“Me bata uma garapa”, falou dona Lucinha. É s.... ... ! Esses indivíduos querem fazer a gente de besta...Desde quando o Dois de Julho é organizado pelo governo? Se assim fosse não ia prestar, e ainda por cima por esses paspalhos que só fizeram desfazer o que estava bom, e não fizeram nada que valesse a pena botar no lugar não iam acertar a mão numa festa dessas proporções” resmungou.
Encontramos mais um monte de amigos, inclusive um grupo de jornalistas vestindo uma camiseta onde colocavam a venda o diploma da profissão(culpa de Gilmar)...
-Quem quer um diploma que já não vale nada? Quero é uma camisa dessas, brinquei.
-Você não quer comprar, mas quer vender , né? rebateu Diogo Tavares, autor da gracinha executada de última hora na calada de ontem `a noite....
É o Dois de Julho...Intelectuais, estudantes, sociólogos, profissionais liberais, donas de casas, políticos, desocupados, desempregados, patricinhas, mauricinhos, mendigos, malucos, representantes da sociedade baiana se encontram e dividem espaço numa festa com muito som, muitas cores e muita vibração. O que mais dizer? Viva a Bahia!
(Por que os outros estados não comemoram esta data? O Dois de Julho deveria ser uma festa nacional)