sábado, dezembro 23, 2006

A Missa do Galo

O Natal me lembra a Missa do Galo e uma das maiores decepções da minha infância.
Por muito tempo desejei poder ir à missa, que naquela época era sempre à meia-noite.
Minha mãe vinha de uma família batista e seu avô, meu bisavô, foi um dos primeiros, se não o primeiro, pastor batista brasileiro.
Mas, a Igreja Católica sempre exerceu um fascínio sobre mim com seus altares maravilhosos, anjos, e santos dramáticos em rituais de êxtase e sangue.
Eu devia ter entre seis e sete anos quando esse dia chegou. Eu iria à missa com minha avó paterna e madrinha, uma católica praticante. Lembro da ansiedade que senti, e o esforço que fiz para me manter acordada. Minhas tias se preparavam animadas e eu olhava encantada para o véu de renda que elas levavam na cabeça.
A missa transcorreu normalmente, com cânticos, incensos, e palavras em latim.
Quando acabou, virei para minha avó e perguntei me sentindo lesada: “ e o galo? cadê o galo”? “porque ele não veio?”
Na minha imaginação, o galo seria a parte especial da celebração, e deveria permanecer em cima do altar enquanto o padre celebrasse a missa.
Minha avó explicou que a missa do galo se chamava assim porque era realizada nas primeiras horas da madrugada. Fiquei terrivelmente desiludida.
Mais tarde me disseram que Papai Noel não existia. Como não? Eu tinha rezado pedindo a ele uma correntinha de ouro e recebi uma exatamente igual a que eu queria.
E não havia contado meu pedido pra ninguém...
Papai Noel existia sim. E até hoje , quando chega o Natal, eu sempre penso que ele está por aí para realizar todos os nossos sonhos e desejos..
E quem sabe esteja mesmo.
Que todos nós possamos ter nossos anseios realizados.
E que Papai Noel traga paz, prosperidade e harmonia para o mundo inteiro.
Chega de guerra e de pobreza. Luxo para todos.
Feliz Natal e um ótimo 2007 para todo o planeta.
E para nós especialmente.


quarta-feira, dezembro 13, 2006

Para alguém de quem gosto muito

Não se pode , nem se deve, viver a vida dos outros. A nossa própria vida pode ser a melhor possível. Nosso tempo é só nosso, não está conectado à vida ou à história de mais ninguém.É preciso escrever nossa história sem antecipações, sem pular degraus. Só assim se chega completo onde se tem que chegar.

terça-feira, dezembro 12, 2006

"Sei que sou sólido e são,
para mim num permanente fluir
convergem os objetos do universo;
todos estão escritos para mim
e eu tenho de saber
o que significa
o que está escrito".

Walt Whitman

segunda-feira, dezembro 04, 2006

Léozinho






Léo teve alta ontem, após mais duas semanas no hospital.
Há dois anos, descobriu-se que ele tinha leucemia e foi iniciada uma luta para a recuperação da sua saúde e para encontrar uma medula compatível com a dele.
Um menino forte, determinado e corajoso. Durante o período em que passou, entrando e saindo no Hospital São Rafael, onde realizava o seu tratamento comandado pela eficiente equipe do doutor Fernando Araújo, Léo não reclamou das quatro cirurgias que teve que fazer para tirar e colocar cateteres (será assim que se escreve?), não reclamou das centenas de agulhadas que tomou, da quimioterapia, dos antibióticos, nem das dores que sentia. Aceitava tudo com estoicismo e acompanhava o seu tratamento cuidadosamente a ponto de ligar para a enfermaria para saber quando as plaquetas que teria que receber iriam chegar, lembrar os horários dos remédios que teria que tomar, e coisas assim.
Só reclamou dos dias que passou na UTI e, às vezes, da comida.
Fora isso, estava tudo dentro do que estava disposto a suportar. Ficou amigo dos médicos, das enfermeiras, das auxiliares, e do pessoal da copa para onde ligava de vez em quando para pedir um sorvete, um cafezinho, um Nescau. Enfim algo que estivesse com vontade de comer. Comia muito para fortalecer seu sistema imunológico e entre seus passatempos preferidos estava o sjogos no lap top, o desenho de Bob Esponja na TV e os passeios de madrugada pelos corredores do hospital puxando consigo toda a parafernália de rodinhas com o soro de onde saía o remédio que ia para o seu organismo. No ano que vem, iria cursar a faculdade de engenharia elétrica no Cefet.
Seus últimos exames mostravam uma medula limpa e os médicos estavam confiantes.
Mas seu ciclo já estava encerrado. Léo partiu na madrugada de domingo levado por uma parada respiratória. Uma partida sentida por todos seus amigos e familiares. E claro, por mim, sua tia.
Um menino de 21 anos com uma inteligência brilhante e um coração de... menino.
Estamos todos tristes e muito orgulhosos de sua capacidade de combate, de seu bom humor, e de sua confiança no futuro. Estamos gratos por tê-lo conhecido e de que ele tenha feito (e fará sempre) parte de nossa família.
Gostaria de poder dizer a ele obrigado Léo, por tudo que nos deu, pelo seu sorriso, pelo seu carinho, e até pela sua teimosia.
Você cumpriu seu ciclo da melhor maneira possível. Tenho certeza que foi aprovado com louvor. E tenho certeza também que estará bem onde estiver.Teremos saudades e o consolo de saber está em paz. Como seu pai escreveu num cartão de dedicatória junto às flores : Fique em paz querido. Não se preocupe conosco.Teremos saudades.