domingo, abril 12, 2009

Passagens e passagens......





Nos inclinamos perante o enigma indecifrável, mas é também uma ocasião preciosa para entender qual é o valor e o significado da vida". Católicos ou não, temos uma cultura que, de alguma forma, espiritual ou material, celebra a Páscoa. Quando eu era criança, lembro que lá na minha sobrevivente Canudos os mais velhos jejuavam na Sexta-Feira da Paixão, as imagens dos santos passavam toda a Quaresma cobertas de roxo e as crianças iam tomar a bênção aos padrinhos. Crescemos sabendo que na Páscoa se lembra a morte de Cristo, mas, principalmente, sua ressurreição. Pra mim, é esta a beleza da Páscoa. Desde os cultos pagãos, ela é uma celebração que nos ensina que sobrevivemos à morte. Naquela menina que ficava curiosa pra ver, no Sábado de Aleluia, os santos descobertos do véu roxo estava sendo sedimentado este modo de ver a vida. Mas nenhuma Páscoa me marcou tanto quanto esta. As imagens de destruição na cidade medieval de Áquila, numa Itália tão católica, tornam esta uma Páscoa muito simbólica. Pelo menos praquela menina, que ficava feliz vendo os santos descobertos depois da sexta-feira santa, pensar que igrejas tão antigas, como a Basílica de Santa Maria di Collemaggio, cuja abóbada caiu sobre o local onde se encontra o túmulo do papa Celestino 5º, a Igreja das Almas Santas, e outras daqueles povoados onde as igrejas deviam ser tão importantes como aquela da minha infância, também destruída, esta é uma Páscoa muito especial. Mas a cerimônia dos funerais das vítimas do terremoto, numa sexta-feira da paixão, excepcionalmente autorizada pela Vaticano num dia onde a igreja não celebra missas, foi o mais marcante. Aqueles mais de 200 caixões alinhados. Aqueles caixões brancos. A solidão daqueles que ficaram. E a ideia de que essas pessoas vão ter que recomeçar. Sem casa. Sem família. Sem boa parte da história. E sem conseguir decifrar o enigma. Onde estão os que se foram naquela madrugada? É a Páscoa. Para os cristãos. Mas também pra pagãos. É só estar atento aos sinais. A frase lá de cima foi da homilia do cardeal Tarcisio Bertone, o representante do papa naqueles funerais da sexta-feira. Preciosa pra qualquer um que queira encontrar o sentido da Páscoa.


Como diz minha amiga Dóris Abreu ando muito pragmática. Socorro Araújo, jornalista e autora da cronica acima, está sempre poetizando as coisas. Me lembro da Páscoa, dos rituais, das comidas e do sentimento de culpa. Jesus morreu para me salvar. Sempre senti repulsa à imagem do Cristo ferido e sangrando. Se eu pudesse tiraria essa imagem do calendário cristão. A Páscoa me lembra também uma frustração de infancia: filha de uma protestante com um gnóstico nunca fui anjinho apesar da influência de minha avó paterna extremamente católica. Mas como diz a Páscoa, passagem, o ideal é que estejamos sempre nos transformando em pessoas melhores . Que nossa vida seja sempre uma passagem!