sexta-feira, agosto 18, 2006

O foguetório...

Vivendo em Salvador a gente se acostuma com todo tipo de barulho.
Afinal, o povo adora festejar. Festeja-se tudo. Até a derrota..
Quando o Brasil perdeu da França, na Copa, foi um tal de foguetório que um amigo comentou: “Nunca pensei que tivesse tanto francês na Bahia”. Não tem.
Na minha opinião, o povo detesta desperdiçar dinheiro. E como provavelmente comprou muitos fogos confiante na vitória do Brasil, o foguetório serviu, ao menos, para extravasar a decepção e a raiva. E para não ficar com sensação de prejuízo.
Festejar a vitória da França foi uma espécie de vaia para nossa seleção.
Pois é. Nas festas sacras tem foguetório. Nas pagãs também.
Numa segunda-feira à noite peguei um ônibus com o trajeto errado. Percebi que estava errado quando notei que ele estava fazendo muitas voltas. Não fiquei estressada porque, embora fosse demorar mais, no final ele ia acabar passando perto de onde eu teria que ficar.
Ruas estreitas, casas pobres, reconheci o lugar: Vale das Muriçocas... .
Passava o tempo lendo uma revista, quando ouvi um foguetório, e os gritos de uma mulher na rua me chamaram a atenção. Não me espantei. A surpresa veio quando meu olhar se voltou para dentro do ônibus: estava todo mundo deitado no chão. Não era foguetório, era tiroteio.
Me abaixei também, enquanto os passageiros gritavam para o motorista que parou o veículo: “Se adianta cara, sai daqui; parou por que”?
O motorista obedeceu e colocou o ônibus em funcionamento saindo da área de tiro. Poucos metros adiante as pessoas andavam e conversavam naturalmente, como se nada houvesse acontecido. Quem ouviu o barulho também deve ter pensado que eram foguetes.
“Como é fácil morrer”, comentou um amigo a quem narrei a história. “Você podia ter levado um tiro e morrido sem nem perceber”.
“É mesmo”, concordei assustada... Alguém vai passando leva uma bala, acorda em outro lugar e não sabe o que aconteceu: “Onde estou, que lugar é esse, que estou fazendo aqui ?”
Não gostei nem de pensar. Sei que é ser muito conservadora, mas torço para morrer numa situação de normalidade: velha e na cama de um hospital, com tudo arrumado, contas pagas, inclusive o enterro.
Será que estou sendo mórbida? Por que as pessoas não gostam de falar sobre uma coisa que vai acontecer fatalmente um dia???
O que me incomoda é a possibilidade da surpresa!

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