sábado, maio 03, 2008

O doutor não gosta de berimbau...

O professor Natalino Dantas, coordenador do curso de medicina da Ufba, prestou um favor à Bahia ao justificar para a imprensa o fracasso dos seus alunos, no Enade, afirmando que isso se deu porque o baiano tem um QI baixo , o que se deveria à nossa mistura racial. Outras declarações do professor, que chocaram e irritaram a sociedade, também foram bem oportunas. Embora, evidentemente, não tenha sido essa a sua intenção, os comentários, que ele fez com tanta naturalidade, acabaram mostrando o cancro existente em determinados núcleos sociais, que se baseiam no preconceito racial e na falta de informações científicas.
Os sinais do preconceito na Bahia não são algo que esteja escondido. Na medicina ,sabe-se que para diagnosticar uma doença precisa-se observar os sinais e os sintomas do paciente. O médico pode captar os sinais , mas cabe aos pacientes falar dos seus sintomas para que possa ser tratado.
Ao fazer uma declaração que tinha como pano de fundo a sua resistência às cotas raciais para a universidade, o professor, especializado em cirurgia torácica-vascular, com mestrado e doutorado pela USP, parecia se sentir muito à vontade para expressar uma opinião anacrônica que certamente é compartilhada por determinados grupos. Assim, de acordo com Natalino, o baiano é burro por que é miscigenado.
Ora, ora, ora , há muito já se sabe que a teoria da supremacia de uma raça sobre outra não é respaldada pela ciência; estudos genéticos provam que teorias vinculando conceitos de evolução e raça não têm fundamento científico. Como é que o professor doutor não sabe disso?
O preconceito racial, portanto, além de anacrônico é uma demonstração de ignorância. A raça humana é uma só. Os tipos humanos são vários, mas a espécie é única. A prova disso somos nós, mestiços . Segundo uma amiga antropóloga, se houvesse diferenças entre as raças a cópula entre brancos e negros, negros e orientais, orientais e brancos e, outras misturas, não gerariam seres humanos nem qualquer outra coisa. Seria uma cópula estéril – se é que se se dizer assim.
É porisso que eu acredito convictamente que a Bahia deve sim agradecer ao professor Natalino por, no seu primarismo, trazer à tona um tema que mobilizou a sociedade baiana que se viu retratada e se sentiu ofendida com as declarações do referido mestre e doutor.
A propósito, embora eu prefira um violino, um berimbau bem tocado, sem dúvida, faz bem a alma.


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