Depois de levar um bolo de minhas
amigas, que resolveram deixar para ir ao
Rio Vermelho à tarde, para ver os barcos
saírem com as oferendas para Iemanjá,
desci sozinha para a praia de
Santana. À tarde, é muita gente, muita
muvuca para o meu gosto. No caminho
encontrei uma amiga e o marido. Se conheceram há 34
anos na festa de Iemanjá e estão juntos até hoje. A fila, para colocar os
presentes na casinha da orixá, que seriam levados à tarde ao alto-mar, já estava nas imediações da Farmácia Santana,
na Rua da Paciência, mais de 500 metros de distância. Paciência é uma das
virtudes que preciso adquirir, mas só na próxima encarnação. Nessa, já desisti.
Calculei que levaria umas três horas para chegar na casinha. Estou fora.
Resolvi descer a escarpa e me juntar às dezenas de pessoas, que de branco, jogavam
flores diretamente das pedras. Numa delas, um pai de santo jogava água benta
nos devotos e quase que eu ia para lá, mas achei que era muita cara de pau
pongar no grupo.
Levei três rosas: uma , a minha, a primeira a
florir da minha roseira, e duas que
comprei: uma branca para a minha comadre que viajou, e me incumbiu de jogar a
sua flor e outra, uma azul, para um amigo sem fé. Na descida das pedras, minha
sandália escorregou, caí, e quase fui
dizer alô a Iemanjá pessoalmente. Tudo bem. Apesar do vestido sujo de algas e
do limo das pedras fiz os pedidos: paz, saúde e prosperidade.
Na volta, um pai de santo benzia
as pessoas. Reparei que na cestinha dele tinha R$ 20. Não levei dinheiro, só
trocados, mas ele me chamou e eu fui. Fêz uma benzedura completa. Eu tinha
avisado que não tinha dinheiro, mas quando botei minhas moedinhas na cestinha
ele perguntou: “Só tem isso”? e eu:
“Avisei que não tinha grana”. Espero que a benzedura ainda esteja valendo.
Várias rodas de capoeira, e as
pessoas continuavam chegando, muitas flores, desde grandes buquês a simples
rosinhas e flores do campo. Embora tenha sido pedido que se evitasse frascos de
perfume e presentes de elementos
não-degradáveis, o pessoal não respeitou. Bonecas, perfumes, barquinhos de
madeira eram dos presentes mais frequentes. Um dos barcos chamava a atenção
pelas cores: vermelho, azul e branco.
Certamente, devia ter alguns outros nas cores vermelho e negro.
Em alguns botequins pessoas
comiam feijoada. Tinha de todos os preços. As casas noturnas e restaurante da
região ofereciam festas privês com valores que ficavam entre $70 e R$ 200. Geralmente as tais festas
de “ gente bonita”, como gostam de dizer os colunistas, na verdade, quase
sempre festas de pessoas feias bem vestidas.
Meu ex-vizinho Aloisio me
convidou para uma feijoada na casa dele. Conheço os poderes gastronômicos de
Fofão, como é mais conhecido, que gostava de cozinhar de madrugada e que me
acordava com o cheiro delicioso de seus petiscos. Minha máquina de fotografar
falhou. A memória estava cheia e não consegui apagar. A fotógrafa Shirley
Stolze, amiga de infância de meus irmãos menores, que passou a noite
registrando a festa e que pretendia ficar até o inicio da noite, disse que eu
poderia usar as fotos dela. O que pretendo fazer. E que Iemanjá escute os
nossos pedidos que forem justos e entre eles que as tradições da Bahia se
mantenham por muitos e muitos anos.
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