quinta-feira, julho 20, 2006

Safári Urbano

Segundo Sartre, filósofo francês que fez a cabeça de milhares de jovens brasileiros nas décadas de 60, 70e 80 do século XX e que ainda hoje ainda é o preferido de muitos daqueles que compartilham de sua forma original de ver o mundo, o homem deve fazer uma opção sempre que a sociedade, a política, a educação e os hábitos adquiridos o coloquem numa encruzilhada de múltiplos caminhos. O ser humano, pode escolher entre ser covarde ou corajoso, cúmplice ou denunciador de crimes, acomodar-se a uma determinada situação, ou aceitar ou combater determinada realidade. De qualquer maneira deve afirmar-se nesta ou naquela situação e assumir a responsabilidade da opção, atuando e participando, mesmo que esta escolha se torne inquietante e incomoda.
Estou pensando em Sartre desde que assisti no noticiário da TV a apresentação dos assassinos do economista Victor Athayde Couto Filho, um jovem e talentoso intelectual morto por pessoas que trabalhavam e tinham trânsito livre no condomínio onde morava. A cara dos criminosos me causou repugnância e sentimento de perplexidade. Que espécies de pessoas eram aquelas? Gente? Não. Bichos.
Bichos na mais verdadeira expressão da palavra. Simplórios, idiotas, pareciam não ter consciência do ato que cometeram enm das suas conseqüências. O mentor do crime, Abelha, misto de pedreiro e cantor de Arrocha, teve o cinismo de se fazer de vítima e dizer que matou o economista por ele estar lhe cobrando um trabalho pago e não executado. Sem entrar no mérito moral do crime que chocou Salvador, me revolve o estômago o estágio mental e intelectual dessas criaturas miseráveis, semi-analfabetas, e de uma inteligência tão rudimentar que assusta. Para criaturas assim, ter um carro e uma boa casa é sinônimo de ser rico, de ser ‘barão’. E como bichos que são, agem pelo instinto. José Raimundo Abelha mostrou que além de amoral e cruel é burro.
Me desculpem , aqueles que acham que todos os pobres são vítimas das circunstâncias. Mas, as mentes simplórias são muito perigosas. Não existe razão, não existem argumentos. O Abelha seqüestra um homem conhecido e respeitado para roubar seus cartões e retirar dinheiro do banco, sai do condomínio no carro desse homem, e mesmo depois que a família divulga o desaparecimento, tenta comprar um celular com os dados do seqüestrado, e é visto pelas câmaras da agência bancária tentando retirar dinheiro com o cartão que não lhe pertence. Na verdade, Abelha e seus cúmplices não deveriam estar na cadeia. Deveriam estar numa jaula. E não me venham os farisaicos com pieguices: “Oh, eles são uns excluídos, coitadinhos, a culpa é da sociedade”...
Concordo. São excluídos e o pior - são nossa gente. Somos eles e eles são nós. E aí, fica nisso?
Simplismo

É óbvio, claramente óbvio, que estou sendo simplista. Mas, sou a favor da teoria conhecida como “a navalha de Ockham”, que com base em tudo o que é feito e dito, neste mundo sem pé nem cabeça, afirma que a resposta mais simples é geralmente a resposta correta. Para mim, está mais que claro. A resposta pula, dança, e faz strip-tease na nossa frente: ou se acaba com a exclusão, dando a todos os que nascem e vivem neste país educação, valores, conceitos, e a perspectiva de uma vida digna ou um dia vamos ter que andar pelas ruas como os visitantes num safári: em carros com grades e guardas armados. Educação, comida e moradia digna são direitos de todos.
Outro dia, na rua em que moro, tinha três bichinhos, digo meninos, dormindo debaixo de uma árvore. Descalços, maltrapilhos, cabelos com piolho, batiam nas portas pedindo comida. Alguém que deve ter se sentido ameaçado (e não totalmente sem razão) chamou a polícia. Os policiais vieram e disseram que não tinham para onde levar os garotos, um dos quais era conhecido arrombador de carros da área.
“Não tenho para onde levar eles, minha senhora. O único lugar onde posso levá-los para que não voltem , é para o cemitério”, disse um deles elegantemente.
Sendo assim, os policiais foram embora, os meninos voltaram a pedir comida, algumas pessoas deram e entraram nas suas casas tranqüilas, consciências lavadas com cloro (eu inclusive).
Os meninos foram para as sinaleiras tentar ganhar uns trocados, roubar alguém se tivessem oportunidade, e depois procurar outro lugar para dormir.... No dia seguinte, os meninos foram para as sinaleiras tentar ganhar uns trocados, roubar alguém se tivessem oportunidade, e depois procurar outro lugar para dormir... E no outro dia seguinte, os meninos foram para as sinaleiras tentar ganhar uns trocados, roubar alguém se tivessem oportunidade, e depois procurar outro lugar para dormir...

2 comentários:

  1. Anônimo10:58 AM

    Acabei de ler o seu texto e não sei o que sentir. Cá estava com meu proprio ressentimento e auto- piedade, que nem jornal tenho assistido. Queria ter as respostas para problemas como esse, queria ser credu-lo e dizer que o amor solucionaria tudo, queria ser alguma coisa: perder a inocência do não pensar. Queria... queria?
    É bem mais facil se omitir, existe tantos posicionamentos a serem tomados em relação aos meus propios problemas pessoais, que esqueço daqueles que devo tomar em relação a sociedade.

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  2. Anônimo12:00 AM

    Grande Aurora !

    Assino embaixo

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