quinta-feira, outubro 26, 2006

Tinha um trio elétrico no meio do caminho

Domingo cinzento e chuvoso, me dirijo ao jornal para cumprir minhas obrigações dominicais, quando me deparo com um engarrafamento 'monstro' na Cardeal da Silva, uma avenida estreita de mão dupla, onde mal dá para passar um carro de cada lado, com o agravante de que lá funcionam duas faculdades. É claro que a palavra engarrafamento na Bahia tem um significado diferente do de São Paulo, onde a palavra em si significa um nível se sacrifício e estresse intolerável. Mas aqui ninguém tem saco para passar mais de meia hora preso no trânsito. Normalmente, no horários de rush a Cardeal da Silva é um inferno, com os estudantes chegando e saindo para as aulas. O inusitado é que aos domingos, dia de folga, a avenida fica livre e o fluxo de veículos transcorre como num “céu de brigadeiro”.
Eu estava em um ônibus quase vazio, com um motorista tirado a engraçado que fazia observações gaiatas a todo momento.De repente, ele diz: “olha é um trio elétrico”...
Ninguém leva a sério; ele faz uma manobra e coloca o ônibus numa posição em que todos podem ver o veículo na frente. De fato, é um trio elétrico. Tocando, e com umas 50 pessoas agasalhadas pulando atrás, com sobrinhas e guarda-chuvas nas mãos...
Não dá para acreditar, penso perplexa. É por isso que às vezes me irrita morar em Salvador. É muita animação por tudo e o tempo todo.
E eu neste resgate cármico que parece interminável ( é, às vezes, eu reclamo de ter que andar de ônibus em Salvador).
E o trio vai rodando em ritmo lento, sob a chuva, enquanto carros e ônibus seguem pacientemente atrás. “Acho que é coisa dos evangélicos”, diz uma senhora. Uma outra retruca: “Não. Acho que é uma festa dos católicos que estava marcada para hoje”.
Não se faz mais religiosos como antigamente, penso intrigada com a força da massa.
Tento sugerir ao condutor que dispare a buzina do ônibus, com a esperança de que os outros motoristas chateados promovam um buzinaço.

Mas que nada. Ele está super zen. Conversa com o cobrador e com os passageiros e torce para que o trio desça para a Vasco da Gama, o que depois de 40m de chateação, acaba acontecendo, para alívio de todos.
Depois que saí do sufoco e minha raiva passou achei engraçado. Só faltou padre Marcelo, ou o 'bispo' Edir Macedo, com os braços para cima de um lado para o outro em cima do trio.
Debaixo de um toldo, é claro. Afinal, chovia.
Na verdade, admito: foi hilário...

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