terça-feira, junho 12, 2007

Sobre negros e brancos...

Todos os dias recebo alguma coisa de pessoas que querem negar a miscigenação no Brasil. Ou somos negros ou somos brancos. E para provar que não somos alienados, que somos boas pessoas, que não gostamos da injustiça e do preconceito, temos que definir de que lado estamos ( o que é isso uma guerra civil?) .
Não sei por que o movimento negro( que conheço) tem tanta raiva da miscigenação do brasileiro. Me mandaram recentemente o texto do blog de Nei Lopes.
Não sei quem é ele, como provavelmente ele não sabe quem sou eu. E olha, temos até o mesmo sobrenome.
Achei o texto dele interessante, embora bata num discurso, que para mim(PARA MIM) é ultrapassado.
Esse conceito de que raça não existe já é do conhecimento de antropólogos há algum tempo. Se é pouco divulgado , ou pouco aceito, é porque existem interesses políticos nisso. Interesses dos ditos brancos e dos ditos negros em provar que não se misturam, o que é bem difícill no Brasil, já que quem tem a pele parda ou marrom, como eu, obviamente é produto de miscigenação.
É verdade que o racismo e a discriminação -por cor, gênero ou classe social são coisas abomináveis.

Mas abominável também é negar a realidade deste país.
Abominável é que alguns MNUs (nem todos) neguem esta realidade, não de forma cientifica, mas por medo de perder espaço.
Talvez fosse o caso de mudar o foco da luta. Lutar pelos direitos que todo ser humano tem, e que todos os cidadãos brasileiros também deveriam ter, independente de sua origem.
Sei que a discriminação dói, embora por ser PARDA (é a cor da minha pele, o que fazer?) e sempre tenha sido classe média, tenha tido uma educação classe média – no tempo em que a classe média era só uma e não como agora-A, B e C- e meus parentes brancos e negros e pardos nunca tenham me rejeitado, eu nunca tenha me sentido discriminada.

Mas isso não quer dizer que eu não entenda, nem sinta como é doloroso ser discriminado pela cor da pele, ou por gênero. O que eu não sinto por mim, posso sentir pelos outros, afinal acredito que realmente só existe uma raça (como diz a ciência moderna: a raça humana). Acho que discriminação é abominável e revoltante...
Mas existe diferença entre revolta e ressentimento. Segundo Albert Camus, filósofo francês de origem argelina, o homem ressentido é aquele em que a consciência de sua situação gera apenas a negação do valor da importância do outro, o desejo de eliminar o outro, a inveja.
Já o homem revoltado luta para transformar a situação, mas não quer ser o outro, nem fazer com o outro o que acha que fizeram com ele. Ele busca se impor como ele mesmo, sem negar
Diferenças nem semelhanças. Ele impõe o seu valor seja ele como for.
O que sinto, por parte de alguns militantes negros, é uma mistura de raiva, ressentimento, e até inveja. Isso para mim, não é racional. É emocional. Não diminuo a dor dos que são vítimas do de preconceito. Eu talvez até já tenha sido discriminada; provavelmente fui. Mas não me senti pequena nem diminuída em nenhuma situação e portanto não percebi a discriminação. E se eu não percebi, não existiu. Só existe aquilo que nossa consciência nos mostra. E consciência é uma coisa muito ampla e complicada.
Lamento o que vejo muitas vezes: o sentimento de revanche que considero pequenez. Querer dividir este país em um país de negros e brancos, como os EUA, negar nossas diferenças, é pequenez.
Acho que o caminho é da luta para conquistar espaços e fazer valer os direitos, mas que também é preciso esquecer a rejeição, o sentimento de inferioridade (que vai da negação da miscigenação ao desejo de agir com o branco, da mesma forma como os brancos agiram com ele).
Besteira esse negócio de dizer sou negro então sou melhor que o branco.
Alguns negros são melhores que alguns brancos, assim como alguns brancos são melhores que alguns negros. Algumas mulheres são melhores que alguns homens e alguns homens melhores que algumas mulheres
Vale lembrar que na maioria das vezes eram negros que capturavam outros negros para vendê-los ao mercador branco. Era costume tribos vencedoras tomarem os perdedores como escravos. Sei que isso não justifica o sistema escravocrata no país, mas explica.
Acho que se eu fosse mais diplomata, faria de conta que também acho que porque o negro foi escravizado, tratado cruelmente, discriminado e injustiçado, tudo que vier de um negro,ou de um grupo negro, é o certo, é a luz, é a verdade.
Então por que eu sou parda, sou apenas negra (apesar de meus antepassados brancos e índios) e tenho que odiar os brancos, ou os assim considerados, e me manter afastada deles e de tudo que os representam seja tecnologicamente, na arte ou na economia?
Acho isso uma forma de pensamento muito rudimentar.
O que sei, e a história pode comprovar, é que todos nós, descendentes de negros no Brasil, somos descendentes de perdedores, ou seja, das tribos que perderam a guerra ou membros de tribos mais fracas.
Não vou abdicar do meu lado branco, nem índio, como não abdico do meu lado negro, para agradar ninguém. Nem negros ou brancos, nem gregos nem troianos, nem gaúchos nem baianos.

Se eu não for verdadeira comigo mesma vou ser com quem???
Chega de dor, de medo, de rancor.

Sou baiana. Sou brasileira.
Vamos pra frente que atrás vem gente.

Nenhum comentário:

Postar um comentário