domingo, junho 17, 2007

Vocês não entendem quase nada do que digo...





Quase que eu apanho ontem, durante um jogo de cartas, de amigas indignadas com esta crônica abaixo, por que eu disse que sou parda, mestiça e que me considero negra, índia, e branca, pelo que conheço dos meus antepassados, todos provavelmente também miscigenados.
Dizer que sou parda para alguns é como dizer que sou branca. Em suma, uma ofensa a todos os negros do mundo. Esse tema é mesmo espinhoso.
A discussão veio à tona depois uma pesquisa que foi feita com negros proeminentes do país, publicadas na imprensa e na internet, que mostrou que praticamente todos eles tinham genes europeus em menor e maior quantidade.
A quem pode interessar uma pesquisa como esta, perguntam alguns, pensando em complôs e conspirações contra a causa do negro.
Que tal à ciência? pergunto eu.
E à quem não interessa constatações sobre o perfil do povo brasileiro? A quem não interessa? .
A verdade e a política, todo mundo sabe, não andam de mãos dadas.
No que uma pesquisa como esta pode atrapalhar a luta pelos direitos do povo negro? Se a luta se baseia no combate ao preconceito e à discriminação o que significa substituir um preconceito por outro, uma discriminação por outra, e o pior: a auto-discriminação ?
Enquanto a polêmica se instalava , eu confundia a minha adversária com minha parceira, e por pouco não passo cartas para ela. Glória Maria surge na tela chamando para o Fantástico debaixo de críticas "Ela é uma branca", dizem.
Por que ela seria branca? Por que não é pobre? Negro tem que ser pobre? pergunto provocante me distraindo do jogo e dando uma canastra real para minhas adversárias.

Não quero ir embora, nem quero dar o fora

Vocês não estão entendendo quase nada do que eu digo. Para mim não importa ser branca ou ser negra. Posso ser qualquer uma dessas coisas. Aliás, eu sou essas duas coisas. O que acho é que não querer se integrar por ressentimento, ou melhor, por medo de ser discriminado, é uma atitude infantil. Portanto, quem sabe, é melhor nos segregarmos num gueto e permitir que os 'brancos brasileiros' nos digam onde devemos entrar, os locais que podemos ou não podemos ir, o tipo de arte de que devemos gostar, e o de pessoas com as quais podemos nos relacionar de igual para igual. Será?
É o branco, o negro, o japonês, ou o índio - em suma o outro- é quem vai dizer quem sou eu?
Eu também tenho alguns preconceitos. Um deles: não gosto de muçulmanos e acho desprezível a limitação individual e a opressão às mulheres dessa religião. Mas, digamos que eu venha a ter um vizinho muçulmano, e todo dia tope com ele.
Vou acabar dizendo bom dia. Talvez um dia troque algumas palavras. E quem sabe até o convide para a tomar um chá na minha casa, ou aceite tomar chá na casa dele. Ele e seus costumes já não serão tão estranhos para mim, nem eu para ele... Não é isso que me tornaria muçulmana( nem nada, Deus me livre) , assim como ele (a) não vai passar a pensar como eu. Vamos provavelmente nos tolerar mais e continuar apenas a nos dizer bom dia.
Agora, não vou discriminar uma pessoa porque ela é preta, branca, rica ou pobre, gay, ou lésbica, feia ou bonita... Mas certamente vou continuar querendo distância dos chatos, burros, e mau-caráter, ,entre outras coisas que não me lembro agora, por que hoje acordei com uma felicidade amedrontadora. Talvez seja a nova dose de bupropiona que esteja fazendo efeito.
Mas, se para algumas pessoas de quem gosto, que respeito e que são inteligentes, solidárias, engraçadas e realizadas social e profissionalmente, é importante que eu me declare negra, e não parda ou mulata, está certo: Eu sou negra, negra, negra como um dia de verão...

Em todo caso, o que digo é que as pessoas deveriam perdoar, esquecer o passado, e não permitir que coisas como as que aconteceram- e que acontecem ainda eu sei- continuem acontecendo, machucando e atrapalhando o presente. Vamos fazer como as crianças quando caem e se machucam , que choram, levantam, esquecem a dor, e voltam a brincar...
Isto também é uma atitude política.
Ah, e para quem pensa que eu censuro os comentários no meu blog não, não, não. Pelo contrário, fico frustradíssima quando não vejo nenhum. Já mexi no blog, já liberei tudo, e em suma, não sei o que está acontecendo.

Um comentário:

  1. Anônimo9:32 AM

    Pimenta nos olhos dos outros é refresco....
    Em todo caso, o assunto merece maiores reflexões.

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