domingo, março 12, 2006

Que falta me faz a fluoxetina...

Hoje fez 15 anos que minha avó, Flora, mãe de meu pai, morreu. Agora, que lembrei...
Como o tempo passou rápido. Parece que a vi ontem.
Vem um sentimento esquisito. Não é saudade. É alguma coisa como agradecimento....
Ela gostava tanto de mim. Eu me sentia tão especial para ela.
Minha outra avó, Raquel, 93 anos, passou mal anteontem.
De raiva. Com o final da novela da Globo.
“Como é que aquele idiota (teria dito ela se referindo ao autor Walcyr Carrasco) faz a gente assistir a novela quase um ano para ver os artistas morrerem no final?”
Minha tia-avó, Cele, também passou mal. As duas estão mais que revoltadas. E prometem não assistir mais novelas em que os personagens principais morram no fim.
Minha mãe, que quase nunca concorda com o que minha avó diz ou pensa, está fechada com ela. Achou o final péssimo, feito para espíritas. E ela é batista. Meu bisavô foi pastor.
Aliás, quando eu era menina, em Jequié, nos domingos de manhã ia para a Igreja Batista, com a minha mãe e minha irmã Alba, onde recitava, cantava e satisfazia minha vontade de aparecer.
No final da tarde lá ia eu para a missa, com minha avó Flora, catolicissima, carregando um catecismo, um terço e usando um veuzinho rendado na cabeça. Era o máximo. Eu me sentia como uma santa que acabasse de descer do céu. Domingos de sapatos brancos, anáguas rodadas, vestidos de festa, e culpas: "toda malcriação que você faz é um espinho que você coloca na coroa de Jesus"....
Hoje, percebo , acordei com um surto hipocondríaco, dor nas pernas e nas costas. Lembrei que minha amiga Lúcia F., que morreu de câncer, detectou um caroço no seio após sentir dores nas pernas. Estou deprimida?
Será vovó Flora, vovó Raquel, Lúcia F., as almas gêmeas?
Passei boa parte do domingo arrumando meu quarto. O armário ficou dez: blusas e casacos de um lado, calças e saias de outro, sapatos arrumados nas caixas; perfumes e cremes numa prateleira; pastas separadas com recibos, notas fiscais, documentos e fotos. Por vias das dúvidas tudo em dia. “Eu sempre fiz o que quis na minha mocidade”....
Espero continuar fazendo tudo o que eu quiser. E não fazendo o tudo o que eu não quiser.
Mas, confesso, tem uma coisa que perdi e lamento : nunca fui anjinho de procissão...

3 comentários:

  1. Anônimo1:00 PM

    Posso pensar que vc não está deprimida ,risos.Posso também pensar, que despede-se da fluoxetina, com muito carinho por ela. Eu que não gosto de despedidas,não fiquei abalada, já que prefiro não usar, por motivos óbvios, pra quem desconhece, adoro ficar triste, adoro excluir-me de vez em quando, produzo mais e atuo menos ,é uma das verdades da melancolia.Ah, Sosígenes..e eu nem sabia que existia. Não há fluoxetina, que roube esse prazer ou essa dor.

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  2. Anônimo1:17 PM

    Emtempo: fujamos dos anti saudades,anti memórias,e sentimentos relacionados. Tudo pelo sofrimento, viva a dor, viva a angústia.Lembro-me do Ministro Gilberto Gil durante aula show inuagural da UFBA. Abordado por um aluno negro, que esfregando o braço, endereçava a Gil ,o gesto; ouviu do sábio Ministro : o que é? vc é negro? que é que tem? é ruim mas é bom tambem.

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  3. Anônimo11:44 AM

    Eu fico pensando sobre a obrigação de estar sempre alegre e de bom humor . Essa "ditadura" da alegria me incomoda, me dá pruridos....A tristeza está para a alegria assim como o trabalho está para o ócio, como a noite está para o dia e é tão bom assim....O que seria do verde se todos gostassem do amarelo? Redescubro sempre o "prazer" de estar dolorosamente triste. Mas,a fluoxetina tem seu lugar, tem sim!

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