sexta-feira, julho 10, 2009

Brincos de fumaça



De novo outra vez. Não é possível. Sim, é possível. Aconteceu de novo. Coloquei alguns brincos e anéis de prata para ferver com água e sal como aprendi em bate papos imprescindíveis com as amigas onde a gente conversa sobre tudo: do momento político, melhor filme em cartaz, nossas vidas, as vidas dos outros e os pequenos fatos e acontecimentos do dia a dia.
Estava no fim da revisão de um livro com 70 mil palavras que estou fazendo para um amigo perfeccionista que quase não deixa nada para revisar quando sinto um odor ácido de coisa queimando. Corro para a cozinha. Não são meus adereços que estão soltando fumaça. É a própria panela onde os coloquei e onde eles estão grudados. Droga!
Devem ter quase umas duas horas no fogo. Estão pretos. Não é que momentos como esses sejam incomuns em minha vida. Talvez seja por isso que não gosto de cozinha; a gente tem que ficar em alerta o tempo todo. Será que Gilmar Mendes tem razão? Que ser jornalista e exercer trabalho intelectual é a mesma coisa que misturar temperos? Não que eu esteja menos prezando o trabalho dos cozinheiros. Longe de mim. Acho que um bom cozinheiro (viu, Ricardo?) vale mil vezes mais do que mau juízes.
Mas, este não é o meu assunto de hoje. Os brincos queimados me remetem a quase 30 anos atrás, no Rio de Janeiro, onde morava na época. Minha amiga Celinha tinha ido passar o dia lá em casa e se ocupava com alguma coisa que não lembro quando vimos uma fumaça negra saindo da cozinha. Saíamos correndo e eu aos prantos vi que eram minhas lentes de contato, que na época custavam caro, e que eu tinha colocado para esterilizar. O estojo onde elas se encontravam derreteu. Minhas lentes derreteram, a panela foi para o lixo. Mas, a culpa foi de Tolstói. Celinha se dividia entre me consolar e achar engraçado. Eu estava solidariamente acompanhando a histórias de Anna Karenina, heroína russa, casada, cuja paixão fatal por um oficial acabou por levá-la para baixo das rodas de um trem(será que é isso mesmo? Faz tanto tempo. Eu era quase uma menina). Fiquei por demais entretetida com o romance, que li quase num fôlego só , torcendo por Anna, o que hoje 30 anos depois eu não faria mais.Quem manda ser burra?penso eu hoje.. .Aliás, ela está em minha galeria de mulheres idiotas de braços dados com Madame Bovary. Se quer trair, faça direito e não fique romantizando como se faz aos 17 ou 20 anos.É só um escape, um passatempo. Para um mulher infiel eu diria: deixe de ser imbecil; pense como um homem, como seu marido certamente terá pensando em alguns momentos do seu casamento.
Quero dizer que não sou adepta da infidelidade, nem da traição. Mentir dá muito trabalho, uma mentira puxa outra, e assim se acaba toda a sua tranqüilidade. Portanto, acho imprescindível que se saiba o que está fazendo e o porquê. Se é porque o seu casamento não está bom ou acabou livre-se dele e não precisará ficar mentindo, coisa mais chata. É claro que dizer a verdade sempre pode causar prejuízos irreparáveis para si e para os outros.Fiquemos então com as pequenas mentiras, educadas, que não prejudicam ninguém e que não lhe tiram o sono . Sim, porque as mulheres em sua maioria não suportam a pressão de viver mentindo nem de ir para cama com o marido estando apaixonada por outro. Sim, na cabeça delas isso é que é infidelidade.
Mas não sei por que estou falando nisso. Meus brincos, me levaram às minhas lentes que me levaram a Anna Karenina que me levaram às mulheres infiéis.Coisa que nunca fui porque nunca escondi nada do que fiz para os meus namorados, que é claro,não suportaram. Então, hoje, viver sozinha, é para mim extremamente libertário. Faço o que quero, na hora que tenho vontade, não engano nem magôo ninguém, não me violento tendo que mentir ou me esconder. Decididamente, não gosto de viver perigosamente. É bom. Muito bom. Mesmo queimando lentes, anéis e brincos.

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