segunda-feira, dezembro 12, 2005

Poema solto

O homem dorme no barquinho
na beira do mar ao sol das
nove horas...
Que dia limpo !
Não pode haver nem mal,
nem dor debaixo do sol ...
O mar está azul faísca,
areia rosada,rochas e
musgos, pocinhas d´água.
Me banho...
Um rapaz moreno me olha
de alto a baixo.
Acompanho o olhar e
o devolvo irônica e
divertida debaixo de
minhas lentes escuras:
Que bonitinho, gracinha!
Não pareço (e isto é importante),
mas poderia ser sua mãe...
À frente, a praia da minha adolescência...
Lembranças de tardes ensolaradas
o grupo de amigos ,
o frescobol,
e alguma inconsequência,
como o pulo do rochedo sem
saber nadar, com as
ondas batendo lá embaixo.
Pura exibição...
Vexame....
Sobrevivo com o corpo
arranhado,a alma ferida,
e o ego arrasado.
Os barrancos ainda estão lá,
cobertos de verde: coqueiros,
mandacarus,e mal-me-queres.
De um lado o farol e o Cristo,
do outro o Morro da Sereia
Passo no meio de uma pelada,
atrapalho o jogo e os meninos
me olham irritados.
Desculpem, foi sem querer...
Eu sei, é um privilégio,
talvez uma graça, poder estar
onde estou agora,
caminhando na praia,
banhada de sol, num dia de semana,
sem um tostão no bolso,
e devendo ao banco.
A calma do mar se reflete
em minha alma...
Mas essa beatitude é muito estranha:
“Deus, por favor, dá para tirar esse sorriso besta do meu rosto?”

Nenhum comentário:

Postar um comentário